segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Como agir quando o paciente se declara estressado

Todos os dias, ouvimos pacientes perguntarem: “Doutor(a), isso pode ser provocado por estresse?”. Em seguida, afirmam: “Eu sou muito estressado”.

Essa queixa geralmente embaraça o médico, que não é preparado, durante seu curso e residência, para lidar com questões emocionais. O ainda vigente modelo biomédico estabelece que tudo tem que começar e terminar obrigatoriamente no nível molecular. No entanto, se ouvirmos os pacientes atentamente, perceberemos muitas referências a emoções junto com as queixas físicas.

Como agir diante dessa situação? Ignorar? Dar conselhos do tipo: “Não esquente a cabeça”, “Esqueça isso”,“Você não deve se estressar”?

Isso não funciona, porque o médico não explica como o paciente conseguiria pôr em prática esses conselhos.

De modo geral, quem se queixa de estresse nada faz contra ele. Se tivesse tido orientação adequada, já teria procurado um psicoterapeuta. Acontece que muitas pessoas, por falta de esclarecimento, não acreditam em psicoterapia, outras não sabem qual terapeuta consultar. Como confiam no médico, principalmente se tiverem boa relação com este profissional, esperam que ele os atenda na esfera emocional também, mesmo porque, para o paciente, sua situação de vida e seus sintomas são uma coisa só, uma fazendo parte da outra.

O reconhecimento do nível de estresse em que a pessoa está vivendo pode torná-la consciente de que precisa fazer algo para evitar mais consequências do que as que está sentindo como decorrentes dele. E o médico pode, durante a consulta, com algumas simples frases, ajudar efetivamente nessa conscientização, de modo que leve o paciente a tomar uma atitude produtiva com relação ao estresse em vez de se conformar em ser estressado.

Tudo se resume a perguntas que podem fazer a pessoa tomar conta de si mesma, entendendo que o estresse emocional é sempre uma questão de como se interpretam os fatos.

Damos, a seguir, uma sequência de perguntas terapêuticas, que estimulam o paciente a pensar e talvez decidir a adotar providências para viver melhor:

1. (Paciente) Doutor, sou muito estressado. Qualquer coisa me estressa.

(Médico) Como você sabe que é estressado?

(Paciente) – (Relata o comportamento e as sensações que lhe indicam como se estressa).

2. (Médico)O que você já fez para se livrar disso?

(Paciente) (Geralmente, sua resposta é “nada”).

3. (Médico) Você sabe o que o estresse provoca no seu físico, na sua mente, nas suas emoções e no seu comportamento?

(Paciente) (Tem alguma ideia).

(Médico) (Pode mostrar-lhe alguma figura com os efeitos do estresse ou contar-lhe o que se passa).

4. (Médico) Quanto tempo mais você planeja viver estressado e não fazer nada para sair disso?

(Paciente) ?

5. (Médico)Como você faz para entrar em estresse?

(Paciente) Não sei.

(Médico) Se você soubesse, como seria? Imagine que sabe como faz.

(Essa pergunta não dá outra saída a não ser dizer alguma coisa, porque todas as pessoas imaginam coisas o tempo todo. Se o paciente imaginar que sabe, ele encontrará uma resposta).

(Paciente) Eu penso… ou Eu digo… (exemplos: “não dou conta”, “isso é demais para mim”, “eu sabia que iria me dar mal”, “tudo acontece contra mim” ou outras frases negativas).

(Médico) E se você pensar ou disser o contrario disso, o que pode acontecer?

(Paciente) Não vou ficar estressado.

(Médico) O que o impede de pensar ou dizer outra coisa?

(Paciente) Nada impede, mas não consigo. Eu sempre fui assim.

6. (Médico)Você gostaria de fazer uma avaliação rápida do seu estresse?

(Paciente) (Geralmente responde que sim).

O médico lhe dá o questionário de avaliação do estresse para ele preencher (existe grande variedade de questionários para avaliação de de estresse, alguns muito complexos. Para os fins desta intervenção, o presente questionário, muito simples, dirigido à sintomatologia do estresse, é satisfatório).

Após a avaliação, o paciente se sente motivado a falar sobre as situações que o afetam.

7. (Médico) Qual estresse pode ter relação com essa doença e qual a emoção mais presente nessa situação?

O paciente entende, então, que só tratar da doença sem cuidar do estresse vai apenas remediar o problema físico sem retirar o elemento contribuinte ou causador.

Então, vem a pergunta decisiva, que vai indicar se o paciente usa o estresse como elemento de manipulação ou justificativa ou se quer realmente se livrar dele.

8. (Médico) Você está disposto a assumir responsabilidade pela eu tratamento e sua saúde?

Se a resposta for “talvez”, desista. Ele não vai fazer nada.

Se a resposta for “sim”, o médico deve ensinar-lhe a respiração diafragmática, que tranquiliza, traz a consciência da pessoa para o que ela está fazendo aqui e agora e lhe dá domínio sobre seus pensamentos e emoções. Para ensinar essa respiração, coloca-se o paciente deitado com

livro fino sobre o umbigo e orienta-se a respirar fazendo o livro subir e descer.

Ele aprenderá instantaneamente como usar a respiração para comandar sua mente e mudar seus pensamentos para algo capaz de produzir-lhe calma, alegria, satisfação, bem-estar.

Cinco respirações diafragmáticas três vezes por dia devem fazer parte da prescrição do médico. Se o paciente obedecer, ela estará diferente na próxima consulta.

Com essas perguntas pertinentes, o médico interessado pelo estado biopsicossocial do seu paciente pode beneficiá-lo para sempre em questão de minutos.

Para ser convincente e motivador, porém, é imprescindível que o médico pratique a respiração diafragmática e a incorpore à sua vida e sinta seus naturais efeitos nas emoções e na saúde em geral.

Roberto Azambuja

Hospital Universitário de Brasília

AVALIAÇÃO DO ESTRESSE

Para avaliar seu nível de estresse, considere com que frequência você tem sentido os seguintes sintomas nos últimos três meses.

Classifique segundo esta escala: 5 = todos os dias nos últimos três meses;

4 = quase todos os dias nos últimos três meses;

3 = várias vezes por mês nos últimos três meses;

2 = uma vez por mês nos últimos três meses;

1 = uma vez nos últimos três meses;

0 = nenhuma vez nos últimos três meses.

1. ( ) Dificuldade para dormir ou sono agitado.

2. ( ) Dor de cabeça por tensão ou dor na musculatura do pescoço ou dos ombros.

3. ( ) Azia, ardência, indisposição ou dor no estômago.

4. ( ) Fadiga, cansaço fácil, falta de energia.

5. ( ) Dificuldade de concentracão, pensamentos indesejados, diálogos internos incessantes.

6. ( ) Tendência ao esquecimento de fatos ou coisas ou a frequentes acidentes.

7. ( ) Sensação de fôlego curto ou falta de ar.

8. ( ) Alterações na alimentação: tendência a comer mais do que o normal ou perda do apetite.

9. ( ) Tremores musculares, principalmente nas pálpebras.

10. ( ) Sensação de coceira, picadas ou agulhadas em qualquer parte da pele.

11. ( ) Desânimo ao levantar pela manhã.

12. ( ) Suor excessivo nas mãos ou axilas ou palpitações no coração.

13. ( ) Nervosismo, crises de irritação, perda do controle do que diz ou faz.

14. ( ) Angústia, sensação de não ter saída, de estar encurralado.

15. ( ) Ansiedade, apreensão, tensão, preocupação, medo em relação ao futuro.

16. ( ) Acessos de raiva no trabalho, no trânsito, em casa. Explosão por coisas insignificantes.

17. ( ) Impaciência, mau humor constante, irritabilidade fácil.

18. ( ) Período de depressão, desalento ou tristeza exagerados sem motivo claro, podendo estar acompanhado de baixa autoestima.

19. ( ) Dor leve no peito, quando se sente pressionado(a), preocupado(a) ou sem alternativa.

Total de pontos:

Níveis de estresse: 0 – 19 – Normal, saudável, bom manejo dos fatores de estressantes.

20 – 38 –Estresse leve.

39 – 46- Estresse moderado.

47 – 56 –Estresse intenso.

57 – 95 –Estresse muito intenso, risco de esgotamento.

 
Questionário adaptado por Roberto Azambuja, médico dermatologista CRM-DF 636.
Sócio da International Stress Management Association – Brasil



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