Essa
queixa geralmente embaraça o médico, que não é preparado, durante seu curso e
residência, para lidar com questões emocionais. O ainda vigente modelo
biomédico estabelece que tudo tem que começar e terminar obrigatoriamente no
nível molecular. No entanto, se ouvirmos os pacientes atentamente, perceberemos
muitas referências a emoções junto com as queixas físicas.
Como
agir diante dessa situação? Ignorar? Dar conselhos do tipo: “Não esquente a
cabeça”, “Esqueça isso”,“Você não deve se estressar”?
Isso
não funciona, porque o médico não explica como o paciente conseguiria pôr em
prática esses conselhos.
De
modo geral, quem se queixa de estresse nada faz contra ele. Se tivesse tido
orientação adequada, já teria procurado um psicoterapeuta. Acontece que muitas
pessoas, por falta de esclarecimento, não acreditam em psicoterapia, outras não
sabem qual terapeuta consultar. Como confiam no médico, principalmente se
tiverem boa relação com este profissional, esperam que ele os atenda na esfera
emocional também, mesmo porque, para o paciente, sua situação de vida e seus
sintomas são uma coisa só, uma fazendo parte da outra.
O
reconhecimento do nível de estresse em que a pessoa está vivendo pode torná-la
consciente de que precisa fazer algo para evitar mais consequências do que as
que está sentindo como decorrentes dele. E o médico pode, durante a consulta,
com algumas simples frases, ajudar efetivamente nessa conscientização, de modo
que leve o paciente a tomar uma atitude produtiva com relação ao estresse em
vez de se conformar em ser estressado.
Tudo
se resume a perguntas que podem fazer a pessoa tomar conta de si mesma,
entendendo que o estresse emocional é sempre uma questão de como se interpretam
os fatos.
Damos,
a seguir, uma sequência de perguntas terapêuticas, que estimulam o paciente a
pensar e talvez decidir a adotar providências para viver melhor:
1. (Paciente)
Doutor, sou muito estressado. Qualquer coisa me estressa.
(Médico)
Como você sabe que é estressado?
(Paciente)
– (Relata o comportamento e as sensações que lhe indicam como se estressa).
2. (Médico)O que você já fez para se livrar disso?
(Paciente)
(Geralmente, sua resposta é “nada”).
3. (Médico) Você sabe o que o estresse provoca no seu físico, na sua mente, nas
suas emoções e no seu comportamento?
(Paciente)
(Tem alguma ideia).
(Médico)
(Pode mostrar-lhe alguma figura com os efeitos do estresse ou contar-lhe o que
se passa).
4. (Médico) Quanto tempo mais você planeja viver estressado e não fazer nada para
sair disso?
(Paciente)
?
5. (Médico)Como você faz para entrar em estresse?
(Paciente)
Não sei.
(Médico)
Se você soubesse, como seria? Imagine
que sabe como faz.
(Essa
pergunta não dá outra saída a não ser dizer alguma coisa, porque todas as
pessoas imaginam coisas o tempo todo. Se o paciente imaginar que sabe, ele
encontrará uma resposta).
(Paciente)
Eu penso… ou Eu digo… (exemplos: “não dou conta”, “isso é demais para mim”, “eu
sabia que iria me dar mal”, “tudo acontece contra mim” ou outras frases negativas).
(Médico)
E se você pensar ou disser o contrario
disso, o que pode acontecer?
(Paciente)
Não vou ficar estressado.
(Médico)
O que o impede de pensar ou dizer outra
coisa?
(Paciente)
Nada impede, mas não consigo. Eu sempre fui assim.
6. (Médico)Você gostaria de fazer uma avaliação rápida
do seu estresse?
(Paciente)
(Geralmente responde que sim).
O
médico lhe dá o questionário de avaliação do estresse para ele preencher
(existe grande variedade de questionários para avaliação de de estresse, alguns
muito complexos. Para os fins desta intervenção, o presente questionário, muito
simples, dirigido à sintomatologia do estresse, é satisfatório).
Após
a avaliação, o paciente se sente motivado a falar sobre as situações que o
afetam.
7. (Médico) Qual estresse pode ter relação com essa doença e qual a emoção mais
presente nessa situação?
O
paciente entende, então, que só tratar da doença sem cuidar do estresse vai
apenas remediar o problema físico sem retirar o elemento contribuinte ou
causador.
Então,
vem a pergunta decisiva, que vai indicar se o paciente usa o estresse como
elemento de manipulação ou justificativa ou se quer realmente se livrar dele.
8.
(Médico) Você está disposto a assumir
responsabilidade pela eu tratamento e sua saúde?
Se
a resposta for “talvez”, desista. Ele não vai fazer nada.
Se
a resposta for “sim”, o médico deve ensinar-lhe a respiração diafragmática, que
tranquiliza, traz a consciência da pessoa para o que ela está fazendo aqui e
agora e lhe dá domínio sobre seus pensamentos e emoções. Para ensinar essa
respiração, coloca-se o paciente deitado com
livro
fino sobre o umbigo e orienta-se a respirar fazendo o livro subir e descer.
Ele
aprenderá instantaneamente como usar a respiração para comandar sua mente e
mudar seus pensamentos para algo capaz de produzir-lhe calma, alegria,
satisfação, bem-estar.
Cinco
respirações diafragmáticas três vezes por dia devem fazer parte da prescrição
do médico. Se o paciente obedecer, ela estará diferente na próxima consulta.
Com
essas perguntas pertinentes, o médico interessado pelo estado biopsicossocial
do seu paciente pode beneficiá-lo para sempre em questão de minutos.
Para
ser convincente e motivador, porém, é imprescindível que o médico pratique a
respiração diafragmática e a incorpore à sua vida e sinta seus naturais efeitos
nas emoções e na saúde em geral.
Roberto Azambuja
Hospital Universitário de
Brasília
AVALIAÇÃO DO ESTRESSE
Para
avaliar seu nível de estresse, considere com que frequência você tem sentido os
seguintes sintomas nos últimos três
meses.
Classifique
segundo esta escala: 5 = todos os dias nos últimos três meses;
4
= quase todos os dias nos últimos três meses;
3 = várias vezes por mês nos últimos três
meses;
2 = uma vez por mês nos últimos três
meses;
1 = uma vez nos últimos três meses;
0 = nenhuma vez nos últimos três meses.
1. ( ) Dificuldade para dormir ou sono
agitado.
2. ( ) Dor de cabeça por tensão ou dor na
musculatura do pescoço ou dos ombros.
3. ( ) Azia, ardência, indisposição ou
dor no estômago.
4. ( ) Fadiga, cansaço fácil, falta de
energia.
5. ( ) Dificuldade de concentracão,
pensamentos indesejados, diálogos internos incessantes.
6. ( ) Tendência ao esquecimento de fatos
ou coisas ou a frequentes acidentes.
7. ( ) Sensação de fôlego curto ou falta
de ar.
8. ( ) Alterações na alimentação:
tendência a comer mais do que o normal ou perda do apetite.
9. ( ) Tremores musculares,
principalmente nas pálpebras.
10. ( ) Sensação de coceira, picadas ou
agulhadas em qualquer parte da pele.
11. ( ) Desânimo ao levantar pela manhã.
12. ( ) Suor excessivo nas mãos ou axilas
ou palpitações no coração.
13. ( ) Nervosismo, crises de irritação,
perda do controle do que diz ou faz.
14. ( ) Angústia, sensação de não ter
saída, de estar encurralado.
15. ( ) Ansiedade, apreensão, tensão,
preocupação, medo em relação ao futuro.
16. ( ) Acessos de raiva no trabalho, no
trânsito, em casa. Explosão por coisas insignificantes.
17. ( ) Impaciência, mau humor constante,
irritabilidade fácil.
18. ( ) Período de depressão, desalento
ou tristeza exagerados sem motivo claro, podendo estar acompanhado de baixa
autoestima.
19. ( ) Dor leve no peito, quando se
sente pressionado(a), preocupado(a) ou sem alternativa.
Total
de pontos:
Níveis
de estresse: 0 – 19 – Normal, saudável, bom manejo dos fatores de estressantes.
20 – 38 –Estresse leve.
39 – 46- Estresse moderado.
47 – 56 –Estresse intenso.
57 – 95 –Estresse muito intenso, risco de
esgotamento.
Questionário adaptado
por Roberto Azambuja, médico dermatologista CRM-DF 636.
Sócio
da International Stress Management Association – Brasil
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