sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Poesia Cicatrizes


Neste post apresentamos a poesia "Cicatrizes", fruto de anos de trabalho atento da Dra. Tânia Nely Rocha com pacientes dermatológicos e suas feridas da alma. Tocante e encantadora.


Cicatrizes


Meu corpo est
á com muitas feridas
Porque minha alma está muito ferida
Pinica em vários pontos porque há vários pontos de vista
fendas nas feridas para lá no fundo esconder o que não está decidido
crostas para tampar os meus pontos cegos
feridas pequenas e grandes para que eu possa me lembrar de que existem
objetivos pequenos ou grandes motivações pela vida
feridas que persistem para que eu me lembre de que a perserverança é importante, mas que há de se ter limite para parar
As feridas não cicatrizam porque eu não sei como serão as cicatrizes e se eu as aceitarei
feridas que recidivam como os medos
feridas que me lembram que sempre há esperança
Estou mesmo ferida em minha alma...


Autora: Dra Tânia Nely Rocha
dica Dermatologista

terça-feira, 28 de julho de 2015

Psicodermatologia

Uma série de trabalhos tem demonstrado que o estresse está presente em grande número de dermatoses e de doenças em geral, seja como causa eficiente ou como fator agravante ou mantenedor do estado mórbido. Só não é mais reconhecida essa ocorrência porque, ainda hoje, os médicos não incluem em suas anamneses pesquisa sobre a presença do estresse no quadro clínico. Causa estranheza que, diante de fato tão evidente, as escolas médicas não introduzam em seus currículos informações sobre estresse e treinamento em recursos para anular sua influência. Muitas pesquisas mostram também os efeitos do estresse na atividade médica, que leva os profissionais a cansaço, exaustão, perda de eficiência, erros médicos, síndrome de burnout e viciação em álcool ou drogas. Para alertar os médicos sobre a presença do estresse em seu cotidiano e expor maneiras de lidar com ele, iniciamos, em 2001, nos congressos brasileiros de dermatologia, a sessão denominada Oficina de Práticas Mente-Corpo. No próximo 70o Congresso, em São Paulo, por iniciativa de seus organizadores, foi destinado tempo para essa atividade. Teremos a seguinte programação aberta a todos os interessados e sempre realizada no Auditório 17.



6/9 – 8h-8h30: Como o estresse afeta a  pele. Atitude antiestresse: postura e respiração diafragmática

7/9 – 8h-8h30: Dermatoses influenciadas pelo estresse. Atitude antiestresse: relaxamento muscular

8/9 – 8h40-10h: Estresse e envelhecimento cutâneo. Atitude antiestresse: meditação

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Mente e Pele - Uma relação muito íntima



É comum ouvir pessoas dizerem “estou com os nervos à flor da pele”, “fiquei vermelho de vergonha”, “roxo de raiva”, ou suar mais que o normal na hora de uma reunião importante, ficar cheio de espinhas um dia antes de um encontro especial. Há ainda a possibilidade de apresentar sintomas mais sérios de doenças como psoríase, vitiligo, alergias, infecções, como o herpes, e queda de cabelos em períodos de estresse. Esses problemas podem ocorrer num período de desafios ou dificuldades de relacionamento interpessoal, tais como nos relacionamentos profissionais, sociais, na perda de alguém que se ama ou na relação amorosa.
Uma abordagem cientifica – a psiconeuroimunodermatologia – comprova que questões emocionais influenciam a pele, os cabelos e as unhas e que é possível tratar estas dermatoses levando em consideração as emoções. Problemas da pele associados com as alterações emocionais sempre foram observados pelos médicos, porém até pouco tempo a ciência não conseguia explicar como e por que estas manifestações ocorriam no organismo.
Com o desenvolvimento progressivo da ciência no campo da psiconeuroimunologia é possível afirmar que mensageiros químicos do sistema nervoso – neuropeptídeos e outros neurotransmissores – levam informações do cérebro para os receptores da pele e vice–versa. Por isso, hoje é possível afirmar que ansiedade, euforia, tristeza, angústia, estresse e depressão podem acabar causando alguma reação no organismo, inclusive, na pele, nos cabelos e nas unhas. Diversas pesquisas têm mostrado que os sistemas endócrino, nervoso e imunitário formam um único sistema que recebe a influência direta da mente. Estima-se que mais de 40% das manifestações cutâneas estejam associadas a influências psíquicas.
Quem pode afirmar que está livre do estresse, sobretudo, quando se vive em grandes cidades? Contudo, o que mais importa não é o problema que temos e sim como o elaboráramos e que atitudes temos frente a um problema da vida. Podemos inclusive transformar um problema em desafio!
Vejamos um bom exemplo usando uma metaforicamente as escolhas de um surfista. Na hora de praticar seu esporte ele não seleciona apenas as ondas do mar. Antes avalia em qual praia vai entrar, verifica a direção e a velocidade do vento e as condições do mar. Prepara-se fisicamente para só depois praticar seu esporte favorito. Quando está em cima da prancha, ele surfa à sua maneira, buscando aproveitar o que de melhor tem cada onda, utilizando as experiências e técnicas adquiridas nos anos de prática no mar.
Assim precisamos agir na vida. Devemos observar várias atitudes para cuidarmos de nossa saúde, escolher o melhor de cada situação e utilizar nossas experiências para viver da melhor forma possível.
Vários profissionais, como médicos clínicos e especialistas, psicólogos, fisioterapeutas e varias outras áreas que integram as clinicas de sáude estão unindo esforços e estudos de forma integrada e multidisciplinar. Afinal, se a mente pode desencadear ou agravar uma doença cutânea, pode também ser usada como fonte de cura ou controle dessas mesmas doenças.
O paciente não precisa estranhar se o médico pedir informações sobre sua vida emocional. Uma boa avaliação médica clinica, apoiada se necessário por exames complementares pode indicar que também será necessário o uso de recursos de tratamento no aspecto psiquiatrico ou psicológico. Isso pode ser a diferença para se obter melhores resultados na cura de uma determinada doença cutânea.
Pele e mentes guardam uma relação íntima e delicada. Saber avaliar e cuidar dessa relação certamente beneficiará a pele e todo o corpo. Para uma boa saúde, o pensar, o agir e o sentir precisam estar em equilíbrio, assim como as três pulsões básicas da vida – a sobrevivência, a criatividade e o descanso.
Dra Tânia Nely Rocha,
CRM MG 14352 RQE 6267
           Coordenadora do Departamento de Psicodermatologia - 2015/2016

Livro Psicodermatologia Pele, Mente e emoções foi lançado em novembro de 2014 no CILAD
Congresso Ibero Latino Americano de Dermatologia
Organizadores do livro:
Dr. Roberto Doglia Azambuja
Dra. Luciana Archeti Conrado
Dra. Marcia dos Santos Senra
Dra. Tania Nely Rocha





terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Os pressupostos da mente e sua aplicação na psicodermatologia




    Quem se dedica à psicodermatologia naturalmente sempre leva em consideração a participação da mente na provocação, agravamento, manutenção ou facilitação da cura das dermatoses. Entretanto, muito poucos são instruídos sobre esse fundamental aspecto do ser humano. Nas escolas de medicina não há lugar para a mente e não se encontram, no meio médico,  cursos sobre mente nem se discute o que ela é , qual a sua natureza e qual a possibilidade de realmente existir. Neste artigo, tecemos considerações sobre esse ponto  da psicodermatologia e apresentamos seus pressupostos, que servem para embasar a convicção do que pode ser a mente e de  como utilizar seu poder para benefício das pessoas.

Integrativos e materialistas
   Entre os que se dedicam à medicina, em todos os tempos houve aqueles que se orientam por um  conceito integrativo do ser humano, que seria constituído de uma parte física e de partes não físicas,  e aqueles que têm    conceito materialista, que só acreditam em matéria.
   Os integrativos entendem que o indivíduo é um conjunto inseparável de níveis diversos de energia, que funcionam simultaneamente, interpenetrando-se e interrelacionando-se e ocupando todos os níveis o mesmo espaço, da mesma maneira que as ondas hertzianas estão no mesmo lugar, mas  podem ser sintonizadas separadamente por aparelhos receptores, os quais captam uma onda de cada vez. Para eles, a mente é uma entidade, que não depende do cérebro, mas que  com ele interage permanentemente.
   Os materialistas  “só acreditam no que vêem, ouvem ou tocam”, colocando toda a sua crença  nos cinco sentidos, ainda que saibam que esses sentidos  só conseguem perceber quatro tipos de energia: luz, calor, som e eletricidade. O aparelho ocular só é impressionado pelos  comprimentos de onda da luz visível, ficando todo o resto das energias, como ondas de rádio, microondas, infravermelho, ultravioleta, raios X e raios gama  fora do seu alcance. Para o aparelho ocular no estado natural, essas outras energias não existem no universo, assim como, para o aparelho auditivo desarmado, os sons abaixo de 20 herz e acima de 20 mil herz  também não existem.

Neurociências, cérebro  e mente
   As neurociências, até hoje não foi definiram convincentemente  o que é mente. Uma corrente tem o conceito de que a mente é produto do cérebro e tem a capacidade de modificar o órgão central, sendo também  por ele modificada. Mesmo com essa convicção, ela não foi   localizada  nem foi estabelecida sua natureza. Outra corrente de cientistas acredita que a mente existe por si só e baseia sua crença em experiências que demonstram que, em algum nível vibratório do universo, deve haver algo com extraordinárias capacidades de influenciar o corpo humano e de criar a realidade.

Cérebro como  única realidade
   Em apoio ao conceito materialista, os neurocientistas apresentam como prova o fato de que alterações no cérebro levam a alterações na mente. Um conjunto de neurônios funcionando junto com neurotransmissores origina um estado mental. Substâncias que afetam o funcionamento das células cerebrais modificam pensamentos e comportamentos, como o álcool e os psicotrópicos. Alterações na secreção de neurotransmissores e anormalidades físicas ou funcionais no órgão têm o mesmo resultado.  Aumento de ocitocina, o “hormônio do amor”, desperta sentimentos de carinho e cuidado. Isso é suficientemente conhecido. Portanto é fato inegável que o cérebro modifica a mente.
   Entretanto, o  conceito de que a mente provém do cérebro levanta certas dúvidas.  Como pode a mente, que foi gerada pelo cérebro, ter a competência de modificar seu órgão gerador? Seria o caso de dizer que o cérebro que cria uma mente mais poderosa do que ele é mais poderoso do que ela? É reconhecido que o cérebro é  o órgão   mais complexo do organismo. Se ele é o mais complexo, tudo o que vem dele há de ser menos complexo e, portanto,  será a ele subordinado e não poderia comandá-lo.
   Pelo conceito materialista, só a matéria age sobre a matéria. Quer dizer que só o cérebro afeta o cérebro.  Mas a matéria é feita de átomos, que, na sua profundidade, são feitos de prótons, nêutrons e elétrons, e dentro dos prótons, encontram-se os quarks, que já não são mais partículas, mas flutuações de energia num imenso espaço vazio. Disso decorre que a matéria é feita de quase cem por cento de vazio. Do cérebro, como de todo o resto do corpo físico humano, restaria um punhado de átomos, se tudo fosse espremido e o vazio retirado. Como esse  órgão atuaria sobre si mesmo sem uma causa e provocando estados mentais, que vão gerar comportamentos variáveis a cada instante, se ele é feito de lampejos de energia a se deslocar no vazio? Quando uma pessoa decide levantar-se da cama, pela manhã, isso seria originado  da ativação, pelo cérebro, de um circuito específico, que geraria a intenção de levantar e esta intenção levaria à decisão de se pôr em pé e essa decisão, então, comandaria o cérebro para pôr em ação toda a composição de substâncias químicas capaz de acionar os músculos necessários para levantar-se.  Daí, vem nova dúvida: por que motivo o cérebro teria ligado aquele circuito específico? Como ele saberia que já era hora de aquela pessoa ter a intenção de se levantar?
   Por essa teoria, o cérebro aceita sugestões da mente, que ele mesmo criou, para funcionar diferentemente de como está funcionando. E como o cérebro decide aceitar ou não uma sugestão da mente?
   Sabe-se, por exemplo,  que um  fumante crônico  desenvolve dependência física à nicotina, que impregna todas as células do seu organismo, inclusive as cerebrais. Um dia, ele conclui que aquilo faz mal à sua saúde e decide livrar-se do vício, apesar de sentir prazer em fumar,  e declara: “Não fumo mais”. E efetivamente deixa para sempre o tabaco ainda que atravesse uma penosa  crise de abstinência. Quem decidiu isso, a mente ou o próprio cérebro? Se foi a mente,  por que  o cérebro, que segregava substâncias mediadoras do prazer sob a influência do tabaco, e o ser humano sempre busca o prazer, concluiu que deveria cortar aquele prazer e obrigar aquele organismo a sofrer para se livrar do vício em nome de uma idéia chamada saúde, que até então não tinha tido importância?
   Quando alguém vivencia uma situação de perigo grave, precisa decidir enfrentar o perigo ou afastar-se dele. Como o cérebro decide entre uma atitude ou outra? Como ele faz a correlação entre o risco de lutar e perder e o benefício de fugir e preservar-se? E quando isso envolve uma questão moral, como o cérebro faz uma opção moral ou imoral?
   Nas situações de estresse, as áreas acionadas no cérebro são as mesmas, quer o estresse seja real quer seja apenas uma lembrança ou uma fantasia. “Alucinações, imaginação e ‘realmente’ ver são a mesma coisa no que diz respeito ao cérebro. Se você olha uma varredura do cérebro de uma pessoa enquanto ela cria uma imagem interna de, digamos, seu quarto, você verá a atividade nas mesmas áreas de visão e reconhecimento que seriam ativadas, se ela estivesse realmente olhando o quarto”, afirma Rita Carter, escritora especializada em medicina (1). Como, então, a pessoa não tem dificuldade  em distinguir  se está vivendo uma situação de estresse real ou apenas se lembrando do que ocorreu ou imaginando o que pode ocorrer, se o cérebro está funcionando igualmente?
   Fatores externos a atuar sobre o organismo geram impulsos, que são levados até o cérebro e que se transformam em pensamentos. Todas as pessoas diferenciam um toque agressivo de um toque amoroso. Onde é feita essa distinção; no cérebro ou na mente?
    São questionamentos sobre o conceito de que a mente é produto do cérebro, que as neurociências ainda têm dificuldade de explicar.

Mente acima do cérebro
    A corrente não materialista concebe a mente como algo além do cérebro, que o antecede e o influencia.  Ainda que seja assim, a mente necessita do cérebro para sua manifestação, porque esse é o órgão central de comando no corpo físico. Para isso, a mente depende da constituição e do funcionamento do cérebro e é certo que alterações no sistema nervoso central influenciam as expressões da  mente. Por exemplo, atividade diminuída no córtex pré-frontal, atividade aumentada no cíngulo e atividade aumentada ou diminuída no lobo temporal  correspondem a pensamentos e comportamentos agressivos, segundo Daniel G. Amen, neurocientista clínico e psiquiatra em Fairfield, Califórnia (2). Esse autor afirma que todos os pensamentos mandam um sinal elétrico, que atravessa todo o cérebro e que têm verdadeiras propriedades físicas e ensina a perceber como eles são reais com a seguinte sequência:  1) você tem um pensamento; 2) uma transmissão elétrica atravessa seu cérebro; 3) seu cérebro libera agentes químicos; 4) você se torna consciente do que está pensando.
   O conceito de que algo não tangível existe pode ser percebido por simples experimento. Basta a pessoa concentrar sua atenção na observação do seu corpo, como se estivesse fora dele. Verificar sua posição e sua aparência. Apreciar seu cérebro em ação, com seus disparos elétricos e sua secreção de substâncias químicas mensageiras. A seguir, observar as sensações físicas que está tendo, como calor, frio, prazer, incômodo, dor, prurido ou qualquer outra. Prosseguindo, pode observar as emoções que está sentindo naquele momento, se prazerosas, como calma, alegria,  ou desprazerosas, como  preocupação ou medo. Avançando mais, pode observar os pensamentos que estão dominando sua atenção agora, identificar se são pensamentos construtivos, neutros  ou tóxicos.
   Nesse ponto do experimento, pode-se perguntar: quem é o observador? Não pode ser o corpo, pois este está sendo objeto da observação; também não é o cérebro nem são as emoções nem os pensamentos, porquanto da mesma maneira estão sendo observados. Quem, então, está observando? Pode-se entender, nesse experimento, que o observador não é o mesmo que o  corpo, nem o mesmo que o  cérebro nem as  emoções nem os pensamentos. Então, pode ser  algo não material na composição  do ser humano?
   As pesquisas em psiconeuroimunologia demonstraram, desde seu início, que os pensamentos, que são vibrações,  condicionam o funcionamento do cérebro por  sua transdução, no hipotálamo  em   variadas misturas de neurotransmissores,  neuropeptídios e neurormônios, os quais  atuam sobre os sistemas imunológico e endócrino alterando seu funcionamento.
   Essa ação da mente sobre o cérebro está hoje comprovada por pesquisas de neuroimagem com os recursos da   tomografia por emissão de pósitrons e a ressonância magnética funcional. Não há dúvida de que a mente modifica o cérebro, embora a sensibilidade dos aparelhos ainda não tenha permitido verificar como exatamente se dá essa transdução de uma vibração em substâncias químicas.
   Roger Sperry, que foi professor no Instituto de Tecnologia da Califórnia e recebeu o prêmio Nobel em fisiologia e medicina, em 1981, defendeu a teoria de  que estados mentais podem agir diretamente sobre estados cerebrais, até mesmo afetando a atividade eletroquímica em neurônios.
   Em 1987, Jeffrey Schwartz, neuropsiquiatra da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, pesquisador no campo da aplicação da neuroplasticidade ao transtorno obsessivo-compulsivo, iniciou uma investigação sobre  como um tratamento de pacientes obsessivo-compulsivos poderia mudar o funcionamento do cérebro com uma terapia cognitiva baseada na plena atenção. Com controle por tomografia por emissão de pósitrons, ele verificou que esses pacientes apresentavam hiperatividade do córtex frontal orbital e do corpo estriado e ouviu deles que se  sentiam como que  comandados pelo cérebro, embora soubessem muito bem que não precisavam daqueles comportamentos repetitivos. Criou uma estratégia de quatro passos: 1) Renomear (“eu sei que não preciso disso, é meu cérebro gerando outro pensamento obsessivo”); 2) Reatribuir (“não sou eu, é meu transtorno); 3) Refocalizar (mudar a atenção para alguma outra coisa, mesmo que por segundos); 4. Revalorizar (reconhecer os pensamentos perturbadores como sem sentido, falsos, como sinais cerebrais errôneos). Após dez sessões de terapia, sem nenhum medicamento, 12 entre 18 pacientes   mostravam melhora significativa, acompanhada de acentuada diminuição da atividade do córtex frontal orbital. Esse foi o primeiro estudo que comprovou que mudanças mentais intencionais podiam alterar a química cerebral (3).
   Diante dessa comprovação e de outras, que se seguiram, pode-se questionar: e se os pensamentos forem criados por algo imaterial, situado em algum lugar inalcançável pela fisiologia, dentro do espectro eletromagnético ou em alguma outra esfera das vibrações do universo, que coincidiria com o que se convencionou chamar mente? Isso resolveria a questão da ação dos pensamentos sobre o cérebro. Nesse caso, porém, surge uma complicação adicional: aquele que observa a mente tem o poder de mudar seus pensamentos, como é experiência de qualquer pessoa e como a técnica de Schwartz demonstrou. Ao se dar conta de que um pensamento lhe causa mal, o observador pode comandar a mente a produzir outro tipo de pensamento. Por exemplo, alguém que pense que algo não vai dar certo em algum objetivo pode concluir que, assim como pensa negativamente, pode pensar positivamente e optar por pensar que aquilo poderá dar certo, se ela agir com seus recursos e empenhar-se efetivamente. E aí, tem-se que a mente já não se governa, senão o seu observador a governa e lhe ordena  pensar desta ou daquela maneira. E, então,  numa comparação com informática, o cérebro seria o executor do conteúdo dos pensamentos, o hardware, e a mente seria  o programa que roda no cérebro, o software; nesse caso, tem que haver um programador, que seria o observador do corpo, das emoções e dos pensamentos. Daí porque o cérebro não analisa, apenas executa o que foi carregado  pelo observador, ou seja, pelo programador.  O que o programador  diz a ele, por meio dos   pensamentos da mente, ele aceita.
 E as pessoas têm essa intuição, pois elas se referem a esse programador como “eu”. Perguntadas sobre quem observa o corpo, elas respondem: “eu”. Sobre quem observa as emoções, a resposta é “eu”. Quem observa os pensamentos, a mesma resposta: “eu”. Isso significa que o “eu” é quem cria o programa, que vai acionar o cérebro.  Os próprios neurocientistas afirmam: você pode usar a  mente para  mudar o cérebro (4), mas não explicam  a que “você” eles se referem. Quem  é esse “eu”, que as pessoas dizem? Pode ser o espírito, a alma, o Self, a consciência ou que nome se lhe dê. O fato é que ninguém atribui ao seu cérebro a decisão de mudar seus pensamentos. Ninguém diz: o meu cérebro me mandou ficar estressado ou  gostar de você ou lhe desejar bom dia. Donald D. Hoffman, professor de ciências cognitivas na Universidade da Califórnia, em Irvine, propõe a teoria do realismo consciente e afirma que todos os seres humanos somos agentes conscientes e que a consciência vem primeiro, a matéria e os campos dependem dela para existirem (5).
   Portanto, criada pelo cérebro ou existente naturalmente, há algo onde se geram os pensamentos ou por onde eles transitam, a que se dá o nome de mente, algo estranhamente muito poderoso,  a ponto de  criar a realidade.  Tudo o que foi feito pelo ser humano antes de se manifestar na matéria existiu no pensamento de alguém. Desde um simples copo até um avião supersônico, um radar ou uma mortífera bomba de nêutrons, tudo foi concebido no pensamento de alguém para depois surgir como obra concreta. Isso é óbvio. Se assim é, pergunta-se: por que o organismo humano e tudo o que compõe a natureza teriam surgido do nada, sem serem  antes pensamentos de uma mente?
   Outro simples e comum experimento mostra como a mente produz efeitos fisiológicos: ao criar a representação mental de que se está espremendo um limão na língua, quase todas as pessoas têm suas glândulas salivares ativadas, como se o limão fosse real e, não, apenas um pensamento expresso por  uma palavra. Se a mente pode isso, o que mais ela poderá no organismo? Por que as doenças, pelo menos em parte, não poderiam vir da mente? Por que a saúde não poderia, mesmo parcialmente, ser construída na mente?

Mente consciente e mente inconsciente
   Os que trabalham com psicodermatologia já têm essas noções na sua concepção de medicina. Por isso, integram a mente nas conjecturas dos quadros clínicos e nas suas orientações terapêuticas. E sabem também que a mente, seja ela o que for, tem uma parte consciente e outra parte inconsciente. A parte consciente é aquela que dirige os pensamentos a cada instante, que analisa, julga, compara, pondera, decide, que raciocina.
   A parte inconsciente é  um repositório de todas as capacidades, crenças, hábitos e atitudes, que ficam armazenadas,  e todas adaptações  ou inadequações do indivíduo, que ficam gravadas e das quais a pessoa não se dá conta, a não ser por ocasião de uma introvisão por algum evento significativo ou no curso de um processo terapêutico. A mente inconsciente  não tem a capacidade de pensar, apenas aceita e guarda tudo o que a mente consciente envia para ela como sendo verdade. São ideias, pensamentos, atitudes, valores, princípios.
   A mente inconsciente trabalha com a emoção, não com a razão. Todos os eventos vivamente ligados a uma intensa emoção ficam na mente inconsciente e determinam o comportamento sempre que algo evoque aquela emoção, mesmo que a pessoa não se lembre de por que a sente.
   Todo o conjunto de crenças, construído pela pessoa ao longo dos seus anos de vida, mas principalmente até os sete anos de idade, fica no  inconsciente e dirige suas acões. Forma o seu paradigma, isto é, aquilo que a pessoa tem como verdade em todos os campos da vida, que faz com que ela atue desta ou daquela maneira e, quando indagada por que age assim, ela responde que não sabe, que sempre foi assim ou porque viu sua mãe ou seu pai agir daquele jeito ou cria uma interpretação no momento. Toda a atividade mental de cada pessoa é inconsciente, exceto o que está no foco consciente a cada instante.  Basta lembrar que todas as funções do organismo, que não estão sob o comando da vontade, realizam-se independentemente de o indivíduo se lembrar de que os sistemas respiratório, cardiovascular, digestório, urinário, o baço, o pâncreas, os órgãos linfóides, os sexuais precisam estar funcionando. E mesmo as ações conscientes, como caminhar, abrir uma porta, dançar, dirigir, etc. se compõem de uma intenção (pensamento consciente)  e de inúmeros eventos inconscientes, como a contração e dilatação sinérgica de músculos, para que se realizem, constituindo uma sequência de eventos não controlados pelo consciente.
   Se a mente inconsciente tem o poder de controlar todas as inúmeras reações que se passam em cada célula a cada segundo (seis trilhões, conforme Chopra) (6), seu poder é incomensurável. O inconsciente é o repositório de todas as capacidades do indivíduo, a maioria das quais quase nunca vem ao campo consciente. É por isso que todas as pessoas já tiveram a experiência de passar por algum fato extraordinário e, depois, ao pensar como conseguiu vencê-lo, dizer: Não sei de onde eu tirei força (ou habilidade ou capacidade) para fazer o que fiz; nunca pensei que seria capaz disso. Essa competência ela não tirou do nada,  sempre esteve dentro dela e a sua disposição, mas nunca tinha sido reconhecida a ponto de ela não saber que a tinha.
   Assim como o inconsciente detém as capacidades da pessoa, ali se encontram também suas fraquezas, armazenadas sob a forma de crenças limitantes. O fato de essas crenças não estarem conscientes não impede que funcionem e gerem pensamentos que criam dificuldades e são responsáveis por perturbações energéticas e por influxos químicos desequilibrantes.
   É na esfera inconsciente que se situam as origens  de muitas dermatoses,  principalmente nas pessoas que sofreram algum trauma emocional não resolvido, que levou a um estresse pós-traumático, ou naquelas que não aprenderam com as vivências da infância e sofrem de  medos cujas causas não estão mais presentes, nas que têm mania por doença e cultivam assuntos  doentios, nas que se identificam com doenças que elas vêem em  outras pessoas, nas cronicamente ansiosas, nas estressadas, nas que sempre se  sentem  vitimas, nas que se crêem impotentes para vencer ou deserdadas da sorte. Elas não agem assim porque querem, mas porque há um impulso inconsciente, que as leva a esses comportamentos. E não é acaso o surgimento de doenças nessas pessoas, como todos os que prestam atenção à interação mente-corpo observam cotidianamente.

Cérebro e mente interagem
   No momento atual, a situação das pesquisas nos traz à situação de saber que a atividade cerebral atua sobre a mente e que esta também age sobre o cérebro. Existe, pois, uma interação permanente entre cérebro e mente.
   Os cientistas materialistas ainda não conseguiram meios de provar sua teoria, tomada como definitiva, de que a mente é produto do cérebro. Têm como certo e indiscutível que o  não físico não pode se manifestar no físico. Como diz Leonard Mlodinow, professor de física no Instituto de Tecnologia da Califórnia: “Ainda não estamos perto de descobrir a base da ‘mente’ ou da consciência como um fenômeno que resulta das interações entre neurônios. Mas todos os dias surgem novas evidências em apoio à idéia de que experiências mentais, como beleza, amor, esperança e dor são produzidas pelo cérebro físico”. Ao que Deepak Chopra, médico indiano especializado em endocrinologia nos Estados Unidos, autor de inúmeros livros sobre medicina integrativa, saúde e filosofia de vida, retruca: “Por que devemos afirmar que a mente cria a matéria ou vice-versa? Essa necessidade desaparece, se concordarmos que não há um ponto específico nos últimos 13,7 bilhões de anos em que a matéria de repente aprendeu a pensar e a sentir” (7).
   Já os cientistas integrativos, com o emprego dos modernos meios de análise da atividade cerebral,  têm feito progressos nos indícios de que a mente modifica o cérebro. Resta-lhes, entretanto, a questão de comprovar que a mente independe do cérebro, mesmo funcionando no mesmo espaço e dele recebendo estímulos.
   Amit Goswami, físico nuclear indiano, que foi professor de física quântica por 32 anos no Instituto de Física Teórica da Universidade de Oregon, com base na física quântica dá aparente solução a essa questão. Ele não vê problema de dualismo mente-corpo, porque todos os corpos são possibilidades na consciência antes da manifestação. “Consciência não é mente, é o fundamento de todo ser, o fundamento tanto da matéria como da mente. Matéria e mente são ambas possibilidades de consciência. Quando a consciência converte essas possibilidades num evento de colapso de experiência real, algumas possibilidades sofrem o colapso como físicas e algumas como mentais. A consciência é claramente mediadora da interação entre mente e corpo e não existe dualismo. Do mesmo modo que é incorreto dizer que  o azul cria o amarelo ou que o vermelho procede do verde, assim não é uma metáfora aplicável dizer que a mente cria o corpo ou que a mente vem do corpo. Os dois são resultados correlatos de uma única causa de possibilidade, que produz colapso na consciência” (8). (Colapso é a diminuição da energia de velocidade de giro de onda, que se torna mais densa e assume qualquer forma vibratória, de modo que o corpo físico, que recebe e emite vibrações possa traduzir essa informação para que o cérebro a reconheça).

Pressupostos da mente
   Em face  das pesquisas, observações, fatos  e vivências gerais podemos formular os pressupostos da mente. São princípios de ação da mente observáveis, mas cujo mecanismo não foi ainda demonstrado de maneira rigorosamente científica.  Eles  podem dar apoio no manejo de problemas psicodermatológicos e no melhor entendimento da complexa interação pelo qual mente, sistema nervoso, mediadores químicos, sistema imunológico, sistema endócrino, receptores e genes, agindo em intrincada rede, terminam por expressar uma situação de vida como equilíbrio ou desequilíbrio.
   Relacionamos  os seguintes pressupostos da mente:
1.    Tudo o que se passa na mente é processado pelo sistema nervoso e
transmitido às celulas .  O cérebro é a central de execução no organismo. Sem sua participação nada do que se passa na mente pode se transmitido aos órgãos. Suas alterações funcionais e anatômicas interferem nas suas  mensagens para a mente.
2.    O cérebro não analisa. Realidade ou fantasia produzem o mesmo efeito no organismo.
É dessa maneira que as pessoas sofrem mais com coisas imaginárias do que com reais. Se as escolhas estivessem nos neurônios, as fantasias catastróficas, que geram malefícios para o organismo, poderiam ser eliminadas e o malefício seria evitado. Entretanto, o cérebro toma tudo como ordem a executar. É dessa maneira  que funciona o biofeedback, técnica pela qual a mente é capaz de mudar o funcionamento mesmo de órgãos normalmente fora do controle consciente.
3.    O pensamento impregnado de emoção tende a se concretizar. A emoção dá ao cérebro a sensação de realidade e o leva a trabalhar nesse sentido. Se o pensamento e a emoção forem  externalizados por palavras, cresce seu poder. Isso vale para o que é bom e para o que é mau.
4.    A mente inconsciente domina a vida mental e determina o
comportamento por meio do sistema de crenças.  Cada pessoa só se movimenta dentro do limite das suas crenças, que são inconscientes. Para ir além é preciso conscientizar-se das crenças limitantes e transformá-las em crenças facilitadoras
5.    Para a  mente inconsciente o impossível não existe, pois tudo são ondas de possibilidade. Os recursos da mente inconsciente são ilimitados, porque as possibilidades quânticas são infinitas. O que a pessoa decide que pode, conforme as leis do Universo, ela pode. Daí porque, no nível quântico, toda cura é possível.
6.    A mente inconsciente é sensível à sugestão.  Todas as pessoas são inconscientemente  sugestionáveis.  Essa é a base da propaganda subliminar e da hipnose. Todas as pessoas  se sugestionam o tempo todo com pensamentos repetitivos, alguns dos quais  se tornam realidade.  
7.    A mente consciente só processa de 5 a 7 informações
simultaneamente . O resto é  excluído do campo consciente. Quanto mais focalizado o pensamento maior a eficiência.  Este é o princípio da meditação: acalmar a mente para ser mais eficiente consigo mesmo.
8.    Um pensamento ou uma afirmação repetidos muitas vezes tendem a ser aceitos como verdade pela mente inconsciente.
É assim que uma pessoa aceita rótulos que lhe são pregados em família, como incompetente, desastrado, avoado, dos quais decorrem scripts negativos, que vão ser desempenhados por toda a vida, como o da vítima, o do pobre, o do azarado, o do desligado.

Aplicação na psicodermatologia
   O conhecimento desses pressupostos fornece ao dermatologista um recurso a mais  para ajudar o paciente no campo mental, ampliando sua atuação no tratamento das dermatoses.
   Com base no pressuposto número 1, pode-se orientar o paciente sobre os pensamentos que cultiva, explicando que tudo vai impressionar seu cérebro e que daí segue para todas as células do organismo. Sendo assim, convém que suas mensagens sejam sempre nutritivas e amorosas, pois suas células e, mais ainda, como a epigenética  demonstrou, seus genes serão impressionados por elas.
   O pressuposto número 2 ampara essa escolha, já que o cérebro  é executor das ordens mentais. A  escolha dos pensamentos é da consciência,  do Eu, da essência da pessoa, daquele programador da mente. Se  a pessoa se lembrar de uma previsão desastrosa que tenha feito e das sensações desagradáveis que sentiu até que ela não se cumprisse, perceberá que sofreu sem motivo. O fato foi imaginário, mas o sofrimento foi real. Daí porque a pessoa deve sempre escolher e cultivar  pensamentos que gerem sensações prazerosas e amorosas.
   A realidade do pressuposto número 3 já foi experimentada por todas as pessoas. É aquela meta que alguém decide atingir, a qual, naquele momento, é completamente improvável e, muitas vezes, a pessoa nem dos meios necessários dispõe. No entanto, ela cria na mente a imagem do  momento em que ela já tenha conseguido o que quer, percebe-o como real, reafirma seu propósito e como que se desloca para aquele ponto futuro, vê o que vai ver, ouve o que vai ouvir e sente a emoção  que vai sentir como se tudo fosse real agora. Com isso, ela adquire energia e entusiasmo, faz o que está ao seu alcance e vê outras coisas, que não dependem dela, cair nas suas mãos, como se fosse mágica. Apesar da improbabilidade, ela concretiza sua meta, porque mobiliza os recursos da mente inconsciente, que é movida pela emoção. Este processo, que já ocorreu na vida de todos, chama-se visualização e é bem descrito pela diretora da Clínica de Stress e Biofeedback, em Porto Alegre, Ana Maria Rossi, PhD em psicologia clínica e comunicação verbal e mestre em comunicação de massas (9). É um método que pode ser realizado com qualquer paciente até no decorrer da consulta.
   O princípio enunciado pelo pressuposto número 4 pode ser verificado na vida de cada indivíduo apenas pela auto-observação. Basta considerar por que se fazem as coisas de uma maneira e não de outra. Um exemplo muito comum é o da pessoa que está convicta de que não tem pendor para determinada atividade, como falar em público, matemática, dançar, dirigir ou qualquer outra. Isso entrava sua vida, apesar de não haver motivo real para que ela continue com essa crença.   Levar o paciente a analisar alguma crença negativa (“sempre fui ansioso e não posso fazer nada contra isso”), questionar a veracidade dela  e sugerir-lhe uma mudança para o positivo (“como você faz para se manter assim e não ser de outro jeito?”, “e se você conseguisse, como seria sua vida?”, “o que o impede de tentar?”)  pode dar-lhe grande ajuda no tratamento da doença e na sua vida.
   A nova física apoia o pressuposto número 5. Quando alguém imagina algo, aquilo passa a existir em algum nível do Universo. A idéia torna-se real em alguma dimensão vibratória, de onde, por meios e ações adequados, pode concretizar-se.  Qualquer tipo de mudança pode ser admitido, porque é normal que  as partículas se comuniquem de modo não-local, instantaneamente e independentemente de tempo e espaço. São fenômenos como a sincronicidade, o pensamento mágico, a telepatia, as conexões telessomáticas e as curas milagrosas à distancia  entre outros. Portanto, pode-se levar o paciente a pensar no seu objetivo, por grandioso ou impossível que pareça,  e entregá-lo ao inconsciente. Ele pode aparecer na vida da pessoa por não-localidade, uma conexão sem sinal.
   O pressuposto número 6 é bastante testado na prática. As técnicas hipnóticas comprovam a sugestionabilidade da mente inconsciente. Se as pessoas prestarem atenção ao que pensam vão entender que seus pensamentos são traduzidos por palavras para elas mesmas o tempo todo. Quer dizer que as pessoas falam consigo mesmas o tempo todo e, antes de dizerem o que estão pensando para os outros, já disseram para si mesmas. Analisando a qualidade dos seus pensamentos, vão verificar que grande parte deles é negativa e que muitos se cumprem. São profecias autorrealizáveis. É a prática da autossugestão. Então, o papel do médico  é orientar seu paciente a escolher seus pensamentos e só permitir os positivos, para que a autossugestão o leve sempre para ações construtivas para si mesmo e para os outros. A própria maneira de o profissional se expressar para o paciente e as palavras que escolhe  geralmente o sugestionam sobre o tratamento e os autocuidados.
   Extraordinária ajuda dará o médico que instruir seu paciente a meditar, atitude que é fundada no pressuposto número 7. Quanto mais tranquila a mente maior é a eficiência pessoal. E o meio mais efetivo de acalmar e focalizar a mente é a prática da meditação, que pode ser definida como um estado de relaxamento alerta. É de toda conveniência que o dermatologista integrativo tenha sua própria vivência em meditação para transmiti-la convincentemente ao paciente.
    O pressuposto número 8 torna-se claro pela observação de que as pessoas sabem intuitivamente ou por alguma experiência anterior que fazer uma afirmação pode levar a sua concretização, como é exemplo a comum atitude de evitar  falar sobre algum fato que elas não querem que ocorra (“nem quero falar nisso para não acontecer”). Recorde-se  a quantidade de vezes que se diz que não se tem  capacidade para alcançar determinado objetivo  e a comprovação de que realmente ele não é alcançado. E, por outro lado, pelos mesmos aspectos das coisas que se afirma que tem competência de realizar e se consegue fazê-lo. Da maneira como as pessoas pensam elas falam, da maneira como falam elas pensam e assim se sentem e se comportam. Dizer para si mesmo frases positivas, ainda que inicialmente não  se acredite nelas,  pode mudar a  vida de qualquer pessoa. A afirmação positiva de propósitos é um dos meios pelos quais uma pessoa pode mudar seu script de vida de perdedor para vencedor. A frase repetida é gravada no inconsciente e produzirá seus efeitos, como  expõe   Louise Hay, professora e conferencista de metafísica e autora de inúmeros livros sobre autoestima (10).



Conclusão
   O entendimento de que mente é algo real, seja produzida pelo cérebro seja dele independente, e o conhecimento  dos pressupostos da mente possibilitam o uso dos seus poderes no tratamento das dermatoses. Focalizar os aspectos mentais que acompanham o quadro clínico pode eliminar fatores de manutenção ou agravamento das doenças e pode mesmo mudar a vida da pessoa.


Referências
1.     Rita Carter. O Livro de Ouro da Mente. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 248.
2.     Daniel G. Amen. Transforme Seu Cérebro, Transforme Sua Vida. São Paulo: Mercuryo, 2000.
3.     Jeffrey M. Schwartz, Sharon Begley. The Mind & The Brain. New York:
Harper Perennial: 2003, cap. 2.
4.     Rick Hanson, Richard Mendius. O Cérebro de Buda – neurociência prática
para a felicidade. São Paulo: Alaúde Editorial, 2012, p. 33.
5.     Donald D. Hoffman. Conscious Realism and the Mind-Body Problem. Mind
and Matter 2008;6(1):87-121.
6.     Deepak Chopra, Ageless Body, Timeless Mind. New York: Harmony Books,
c. 1993, p. 9.
       7.   Deepak Chopra, Leonard Mlodinow. Ciência e Espiritualidade – dois
              pensadores, duas visões de mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2012, cap. 12.
       8.   Amit Goswami. O Médico Quântico. São Paulo: Cultrix, 2006, pp. 41 e 53.
9.     Ana Maria Rossi. Visualização – atinja o sucesso com os olhos da mente.
Rio de janeiro: Best Seller, 2008.
10. Louise Hay. O Poder das Afirmações Positivas. Rio de Janeiro: Sextante,
2009.




terça-feira, 12 de novembro de 2013

Hipnose clínica: possibilidades em psicodermatologia


   Embora possa ser de grande ajuda em casos psicodermatológicos e outros, a hipnose é desconhecida da imensa maioria dos médicos. Atualmente, com o crescimento da procura dos pacientes por terapias naturais, está aumentando a quantidade de médicos que se interessam por esta técnica, que foi reconhecida como ato médico pelo parecer no. 42 do Conselho Federal de Medicina em 20 de agosto de 1999 com o nome hipniatria.

 

O que é hipnose

   Hipnose é um recurso natural, porque estados hipnóticos são experimentados por todas as pessoas frequentemente sem que saibam que estão hipnotizadas ou mesmo que se auto-hipnotizaram. É aquela situação descrita como “sonhar acordado”, em que a pessoa sabe que está aqui e, ao mesmo tempo, está em outro lugar. Ou quando fica pensativa e “longe” ou quando imerge num livro durante sua leitura ou ao se projetar num filme ou num profundo envolvimento afetivo ou quando se deixa levar pela conversa de alguém e chega a fazer coisas que depois não sabe explicar por que assim agiu, ou na enlevação de uma prece. A pessoa  está consciente, mas é uma consciência alterada, não a consciência da vigília. É o chamado estado de transe hipnótico no qual a atenção está orientada mais intensamente para o interior do que para o exterior, tem uma grande atividade interna sem perder o estado de alerta, ou seja, estando acordada,  conforme Teresa Robles, PhD em psicologia clínica e hipnoterapeuta ericksoniana (A Evolução da Hipnose – por que a hipnose produz mudanças tão rápidas – apostila).

 

Hipnose  e mente inconsciente

   A hipnose se dirige à mente inconsciente, que é o repositório de todos os recursos do ser humano e, na verdade, é quem dirige a vida das pessoas. A mente consciente só consegue processar, a cada momento, de cinco a nove informações simultâneas. Alguém que assiste a uma palestra numa sala, na qual há o som de um circulador de ar, ao acompanhar atentamente a exposição do palestrante deixará de perceber o ruído do aparelho. Isso passará a segundo plano enquanto ela estiver colocando toda a atenção ao que está sendo exposto e só se dará conta do ruído de novo no momento em que o circulador parar de funcionar, quando ficará mais confortável ouvir o palestrante. Ela sabia que havia o ruído, mas ele não estava mais no seu campo consciente. Assim também ela sabia que estava numa sala, sabia a temperatura ambiente, sabia que a porta estava aberta ou fechada, mas essas informações todas, na hora da palestra, foram para algum lugar não consciente. Não desapareceram, pois, no momento adequado, elas voltaram para o campo consciente.  Portanto, a cada instante trazemos à consciência somente aquilo que nos interessa, ficando todo o resto no inconsciente, mas disponível assim que seja necessário.

   No estado de vigília, predominam as funções do hemisfério cerebral esquerdo, onde estão  o raciocínio lógico, a linguagem verbal e a análise em série linear, distinguindo passado, presente e futuro, o qual mantém a atenção focalizada, pensa e raciocina com ideias.  No hemisfério cerebral direito estão a imaginação, as cores, as imagens,  a criatividade, o raciocínio sintético, a linguagem simbólica e metafórica, a subjetividade.

    A mente consciente é identificada com o hemisfério cerebral esquerdo e a mente inconsciente, com o direito.

   Na maior parte do tempo, somos atingidos por  mais de dois milhões de bits por segundo de informação sensorial, segundo o jornalista e consultor de empresas Aldo Novak (O Segredo Para Realizar Seus Sonhos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2008). Não seria possível para o cérebro absorver e processar todo esse volume de informações. Por isso, elas são filtradas pela substância ativadora reticular ascendente (SARA), que reduz tudo isso a 134 bits.  É esse processo que nos permite dirigir nossa mente apenas ao que julgamos mais importante para nós a cada momento. Se a pessoa está com muita fome, ao andar pela rua ela vai enxergar preferentemente um restaurante ou lanchonete e não vai se fixar  na loja de ferragens, por exemplo.

  A mente inconsciente é como o arquivo de tudo o que foi aprendido e perfaz toda a vida mental, exceto o que está na mente consciente. Todas as nossas Ações são realizadas sem que precisemos estar atentos a cada pormenor que as compõe. A simples intenção de realizar determinado ato desencadeia uma série de acontecimentos no organismo, que levam a sua concretização. Se alguém tem a intenção de abrir uma porta, no mesmo instante todos os músculos estarão em condições de realizar contrações e distensões específicas e coordenadas, para que a pessoa se levante, dirija-se à porta e acione a maçaneta do jeito certo para abri-la. Ela não está comandando conscientemente cada mínimo movimento nem cada informação bioquímica, que lhe possibilita funcionar desse jeito e, no entanto, tudo ocorre do jeito que tem que ser. Alguém ou algo tem a capacidade de executar as informações na sequencia exata, para que a intenção se torne um ato. Assim se passa em tudo o que constitui a vida das pessoas. Ninguém está com plena atenção ao ato de escovar os dentes, tomar banho, vestir-se, dirigir um carro, escrever, andar de bicicleta, etc. Ao mesmo tempo, todo o funcionamento do aparelho respiratório, do coração, da tireóide, do baço, a regulação da pressão arterial, da respiração, da temperatura, do processo de cicatrização  e de todo o funcionamento orgânico, exceto aqueles que podem, até certo ponto,  ser controlados pela vontade,  dá-se sem que a pessoa tenha a mínima noção do que está ocorrendo e do que é preciso para que tudo continue em equilíbrio. Mais ainda: mesmo ocasionais atitudes de defesa e proteção e eventos curativos, nunca antes postos em prática, são determinados por algo não consciente. É o caso de ações que a pessoa realiza sob uma pressão momentânea e, logo em seguida, espanta-se com o que fez, porque nunca imaginou que tivesse aquela capacidade nem de onde tirou forças para aquilo. Isso significa que ela tinha aquele poder e não sabia, ele estava em algum lugar do qual ela não tinha consciência, mas lá estava armazenado e disponível no momento exato. Por isso, diz-se que todo comportamento, todo aprendizado e toda mudança são inconscientes.

   Se a mente inconsciente guarda todos esses recursos, qual seria o alcance de uma técnica que abrisse caminho para que eles fossem utilizados para a cura? Virtualmente, não haveria limites.

   É  à mente inconsciente que se dirige a hipnose clínica com o objetivo de liberar seu conhecimento e seu poder para benefício da pessoa. Se a mente inconsciente é o acervo de tudo o que o indivíduo sabe, aprendeu, experimentou e de tudo o que ele é capaz, o único limite para que o que lá está contido se torne realidade é imposto pelo raciocínio lógico e pelas crenças da pessoa.

 

Comprovações fisiológicas

   Antes vista com desconfiança pelos médicos, a hipnose tem sido confirmada como um fato não só psicológico como também biológico pelos avanços nas pesquisas científicas. Os efeitos da hipnose e da sugestão foram investigados com o emprego de tomografia por emissão de pósitrons (PET), que media o fluxo sanguíneo  cerebral regional (rCBF), e por eletrencefalografia (EEG). A hipnose se acompanhou de aumento significativo de rCBF e atividade delta no EEG claramente correlacionadas uma com a outra. Aumentos máximos no rCBF também foram observados na parte caudal do sulco cingulado anterior direito e bilateralmente nos giros frontais anteriores. A hipnose acompanhada de  sugestão produziu ainda amplo aumento no rCBF nos córtices frontais, predominantemente no esquerdo. Essas evidências forneceram uma nova descrição da base neurobiológica da hipnose, demonstrando padrões específicos de ativação cerebral associados ao estado hipnótico e ao processamento de sugestões hipnóticas, conforme as conclusões dos autores do estudo (Pierre Rainville e cols. Cerebral Mechanisms of Hypnotic Induction and Suggestion. J Cogn Neurosci   1999; 11(1):110-25).

   Outra demonstração de que a hipnose produz alterações no cérebro veio à luz pelo trabalho de Stephen M Kosslyn e cols., da Universidade de Harvard (Hypnotic Visual Illusion Alters Color Processing in the Brain. Am J psychiatry  2000;157:1279-84).  Utilizando um painel que mostrava áreas com cores diversas e o mesmo painel com as áreas em tons de cinza, os autores verificaram que, sob hipnose, eram ativadas as áreas que processam cores em ambos os hemisférios, quando os sujeitos recebiam a sugestão de verem as cores, mesmo quando lhes era apresentado o painel com tons de cinza.  Essas regiões cerebrais tinham sua atividade diminuída, quando os sujeitos da experiência recebiam a sugestão de que estavam vendo o painel em tons de cinza, ainda que se lhes apresentasse o painel colorido. Por meio de  tomografia por emissão de pósitrons ficou evidenciado que, quando os participantes eram solicitados a perceber cores, vendo-as ou não, ativava-se a área das cores somente no hemisfério direito, o mesmo ocorrendo, quando lhes era pedido que vissem os tons de cinza. Entretanto, quando hipnotizados, ambos os hemisférios responderam igualmente. Portanto, o lado esquerdo só foi ativado sob hipnose.

 

O caminho da hipnose

   A maneira como a hipnose funciona ainda é desconhecida. Pesquisadores têm indícios de que a formação reticular, situada no tronco cerebral,  seria um elo entre a voz do hipnoterapeuta e o cérebro do paciente. As palavras ouvidas, processadas pelo nervo auditivo, chegariam à formação reticular e se espalhariam por todo o cérebro, causando uma concentração da atenção ao atingir o lobo frontal.  Na formação reticular, a função de ativação do córtex e manutenção do estado de vigília é realizada pelo SARA, que possui conexões recíprocas com o córtex cerebral.  Se o córtex não for ativado pelo SARA, todas as mensagens somestésicas e estímulos sensoriais que chegam até ele, pelas vias aferentes, permanecerão inconscientes. Todo estímulo que inibir o SARA provocará um estreitamento da consciência e deixará aberta a mente inconsciente.

   Dispondo desses conhecimentos,  a hipnose é induzida  por diversos métodos, tendo todos em comum os recursos de relaxamento, monotonia, linguagem repetitiva e redundante, de modo que as informações neurais vindas do exterior por meio dos órgãos sensoriais deixam de ativar o SARA e, assim, não atingem o córtex , não sendo mais percebidas conscientemente.

 

Formas de hipnose clínica

   Há várias formas de hipnose clínica, sendo as mais comumente utilizadas a hipnose clássica, que emprega palavras ou estímulos visuais, a hipnose ericksoniana, desenvolvida pelo psiquiatra americano Milton H. Erickson, que usa uma linguagem definida como precisamente vaga, e a hipnose condicionativa, ensinada pelo hipnoterapeuta Luiz Carlos Crozera, que se baseia no relaxamento muscular progressivo.

 

Aplicação em medicina

   A hipnose tem um vasto campo de aplicação em medicina com respostas às vezes muito rápidas. Tudo depende de como o inconsciente da pessoa processa as sugestões de cura, havendo pessoas mais hipnotizáveis do que outras.  Em média, pode-se dizer que 92 por cento das pessoas é suscetível aos processos hipnóticos.     

   Em psicodermatologia, a hipnose é basicamente aplicável àquelas dermatoses com mais influência emocional, como prurido e escoriações psicogênicas, tricotilomania, psoríase, vitiligo, dermatite atópica, reações a alimentos e medicamentos, transtorno dismórfico corporal, neurodermite, mas pode ser virtualmente empregada para qualquer doença adquirida, sendo proverbiais muitos resultados em verrugas vulgares, um quadro aparentemente muito suscetível à sugestão. Quem vai operar o processo é a mente inconsciente e ninguém sabe de tudo o que ela é capaz.

 

A hipnoterapia

   Um trabalho com hipnose consiste numa fase de anamnese muito pormenorizada, que tem que incluir as experiências positivas e as crenças facilitadoras do paciente e a mudança que ele quer realizar. Estas orientarão o rumo do que o médico   deverá dizer ao inconsciente durante o transe, pois as sugestões precisam estar de acordo  com o que a pessoa aceita e quer. A sessão propriamente dita se inicia com uma indução, baseada na atenção à respiração seguida de  um relaxamento profundo, reduzindo, assim, ao mínimo os estímulos ao SARA. Quando o paciente atinge o estado de transe, transmitem-se as sugestões de cura, o que pode ser feito por ordens diretas,  metáforas ou palavras de alto significado para o hemisfério direito, como aprendendo, desfrutando, saudavelmente, agradavelmente, sendo comum se utilizarem todos os recursos na mesma sessão. O estado de transe pode ser superficial, médio ou profundo, mas geralmente o paciente varia o nível várias vezes. Após as sugestões, dão-se comandos pós-hipnóticos a serem acionados depois da sessão e pelos próximos dias, semanas ou meses, a fim de perenizar o resultado obtido na sessão. A seguir, traz-se o paciente de volta para o momento presente instruindo-o a reter todo o aprendizado da sessão e sentir-se melhor do que antes.Entre o início e o término de uma sessão decorrem de 20 a 60 minutos e podem ser necessárias várias sessões, mas, às vezes, espantosamente o paciente consegue o resultado em uma única sessão.

   De modo geral, os pacientes se sentem muito satisfeitos, calmos e relaxados após uma sessão de hipnose e ficam muito agradecidos a quem a realizou pela prazerosa experiência que tiveram.

 

Conclusão

   Em conclusão:

1.      hipnose é um recurso ao alcance de quem se interessar em ampliar sua

capacidade de auxiliar seus pacientes;

2.      o mecanismo da hipnose não é conhecido, mas seus resultados são evidentes e seus efeitos biológicos comprovados;

3.      muitos quadros clínicos, para os quais os recursos médicos são limitados,

podem beneficiar-se da hipnose;

4.      a hipnose aplicada por pessoas preparadas é compensadora para quem

aplica e muito agradável para quem recebe;

5.      qualquer médico está autorizado pelo CFM a trabalhar com hipnose,

desde que tenha formação adequada e experiência na técnica.               

 

 

Roberto Azambuja

Hospital Universitário de Brasília

robertodoglia@gmail.com