terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Os pressupostos da mente e sua aplicação na psicodermatologia




    Quem se dedica à psicodermatologia naturalmente sempre leva em consideração a participação da mente na provocação, agravamento, manutenção ou facilitação da cura das dermatoses. Entretanto, muito poucos são instruídos sobre esse fundamental aspecto do ser humano. Nas escolas de medicina não há lugar para a mente e não se encontram, no meio médico,  cursos sobre mente nem se discute o que ela é , qual a sua natureza e qual a possibilidade de realmente existir. Neste artigo, tecemos considerações sobre esse ponto  da psicodermatologia e apresentamos seus pressupostos, que servem para embasar a convicção do que pode ser a mente e de  como utilizar seu poder para benefício das pessoas.

Integrativos e materialistas
   Entre os que se dedicam à medicina, em todos os tempos houve aqueles que se orientam por um  conceito integrativo do ser humano, que seria constituído de uma parte física e de partes não físicas,  e aqueles que têm    conceito materialista, que só acreditam em matéria.
   Os integrativos entendem que o indivíduo é um conjunto inseparável de níveis diversos de energia, que funcionam simultaneamente, interpenetrando-se e interrelacionando-se e ocupando todos os níveis o mesmo espaço, da mesma maneira que as ondas hertzianas estão no mesmo lugar, mas  podem ser sintonizadas separadamente por aparelhos receptores, os quais captam uma onda de cada vez. Para eles, a mente é uma entidade, que não depende do cérebro, mas que  com ele interage permanentemente.
   Os materialistas  “só acreditam no que vêem, ouvem ou tocam”, colocando toda a sua crença  nos cinco sentidos, ainda que saibam que esses sentidos  só conseguem perceber quatro tipos de energia: luz, calor, som e eletricidade. O aparelho ocular só é impressionado pelos  comprimentos de onda da luz visível, ficando todo o resto das energias, como ondas de rádio, microondas, infravermelho, ultravioleta, raios X e raios gama  fora do seu alcance. Para o aparelho ocular no estado natural, essas outras energias não existem no universo, assim como, para o aparelho auditivo desarmado, os sons abaixo de 20 herz e acima de 20 mil herz  também não existem.

Neurociências, cérebro  e mente
   As neurociências, até hoje não foi definiram convincentemente  o que é mente. Uma corrente tem o conceito de que a mente é produto do cérebro e tem a capacidade de modificar o órgão central, sendo também  por ele modificada. Mesmo com essa convicção, ela não foi   localizada  nem foi estabelecida sua natureza. Outra corrente de cientistas acredita que a mente existe por si só e baseia sua crença em experiências que demonstram que, em algum nível vibratório do universo, deve haver algo com extraordinárias capacidades de influenciar o corpo humano e de criar a realidade.

Cérebro como  única realidade
   Em apoio ao conceito materialista, os neurocientistas apresentam como prova o fato de que alterações no cérebro levam a alterações na mente. Um conjunto de neurônios funcionando junto com neurotransmissores origina um estado mental. Substâncias que afetam o funcionamento das células cerebrais modificam pensamentos e comportamentos, como o álcool e os psicotrópicos. Alterações na secreção de neurotransmissores e anormalidades físicas ou funcionais no órgão têm o mesmo resultado.  Aumento de ocitocina, o “hormônio do amor”, desperta sentimentos de carinho e cuidado. Isso é suficientemente conhecido. Portanto é fato inegável que o cérebro modifica a mente.
   Entretanto, o  conceito de que a mente provém do cérebro levanta certas dúvidas.  Como pode a mente, que foi gerada pelo cérebro, ter a competência de modificar seu órgão gerador? Seria o caso de dizer que o cérebro que cria uma mente mais poderosa do que ele é mais poderoso do que ela? É reconhecido que o cérebro é  o órgão   mais complexo do organismo. Se ele é o mais complexo, tudo o que vem dele há de ser menos complexo e, portanto,  será a ele subordinado e não poderia comandá-lo.
   Pelo conceito materialista, só a matéria age sobre a matéria. Quer dizer que só o cérebro afeta o cérebro.  Mas a matéria é feita de átomos, que, na sua profundidade, são feitos de prótons, nêutrons e elétrons, e dentro dos prótons, encontram-se os quarks, que já não são mais partículas, mas flutuações de energia num imenso espaço vazio. Disso decorre que a matéria é feita de quase cem por cento de vazio. Do cérebro, como de todo o resto do corpo físico humano, restaria um punhado de átomos, se tudo fosse espremido e o vazio retirado. Como esse  órgão atuaria sobre si mesmo sem uma causa e provocando estados mentais, que vão gerar comportamentos variáveis a cada instante, se ele é feito de lampejos de energia a se deslocar no vazio? Quando uma pessoa decide levantar-se da cama, pela manhã, isso seria originado  da ativação, pelo cérebro, de um circuito específico, que geraria a intenção de levantar e esta intenção levaria à decisão de se pôr em pé e essa decisão, então, comandaria o cérebro para pôr em ação toda a composição de substâncias químicas capaz de acionar os músculos necessários para levantar-se.  Daí, vem nova dúvida: por que motivo o cérebro teria ligado aquele circuito específico? Como ele saberia que já era hora de aquela pessoa ter a intenção de se levantar?
   Por essa teoria, o cérebro aceita sugestões da mente, que ele mesmo criou, para funcionar diferentemente de como está funcionando. E como o cérebro decide aceitar ou não uma sugestão da mente?
   Sabe-se, por exemplo,  que um  fumante crônico  desenvolve dependência física à nicotina, que impregna todas as células do seu organismo, inclusive as cerebrais. Um dia, ele conclui que aquilo faz mal à sua saúde e decide livrar-se do vício, apesar de sentir prazer em fumar,  e declara: “Não fumo mais”. E efetivamente deixa para sempre o tabaco ainda que atravesse uma penosa  crise de abstinência. Quem decidiu isso, a mente ou o próprio cérebro? Se foi a mente,  por que  o cérebro, que segregava substâncias mediadoras do prazer sob a influência do tabaco, e o ser humano sempre busca o prazer, concluiu que deveria cortar aquele prazer e obrigar aquele organismo a sofrer para se livrar do vício em nome de uma idéia chamada saúde, que até então não tinha tido importância?
   Quando alguém vivencia uma situação de perigo grave, precisa decidir enfrentar o perigo ou afastar-se dele. Como o cérebro decide entre uma atitude ou outra? Como ele faz a correlação entre o risco de lutar e perder e o benefício de fugir e preservar-se? E quando isso envolve uma questão moral, como o cérebro faz uma opção moral ou imoral?
   Nas situações de estresse, as áreas acionadas no cérebro são as mesmas, quer o estresse seja real quer seja apenas uma lembrança ou uma fantasia. “Alucinações, imaginação e ‘realmente’ ver são a mesma coisa no que diz respeito ao cérebro. Se você olha uma varredura do cérebro de uma pessoa enquanto ela cria uma imagem interna de, digamos, seu quarto, você verá a atividade nas mesmas áreas de visão e reconhecimento que seriam ativadas, se ela estivesse realmente olhando o quarto”, afirma Rita Carter, escritora especializada em medicina (1). Como, então, a pessoa não tem dificuldade  em distinguir  se está vivendo uma situação de estresse real ou apenas se lembrando do que ocorreu ou imaginando o que pode ocorrer, se o cérebro está funcionando igualmente?
   Fatores externos a atuar sobre o organismo geram impulsos, que são levados até o cérebro e que se transformam em pensamentos. Todas as pessoas diferenciam um toque agressivo de um toque amoroso. Onde é feita essa distinção; no cérebro ou na mente?
    São questionamentos sobre o conceito de que a mente é produto do cérebro, que as neurociências ainda têm dificuldade de explicar.

Mente acima do cérebro
    A corrente não materialista concebe a mente como algo além do cérebro, que o antecede e o influencia.  Ainda que seja assim, a mente necessita do cérebro para sua manifestação, porque esse é o órgão central de comando no corpo físico. Para isso, a mente depende da constituição e do funcionamento do cérebro e é certo que alterações no sistema nervoso central influenciam as expressões da  mente. Por exemplo, atividade diminuída no córtex pré-frontal, atividade aumentada no cíngulo e atividade aumentada ou diminuída no lobo temporal  correspondem a pensamentos e comportamentos agressivos, segundo Daniel G. Amen, neurocientista clínico e psiquiatra em Fairfield, Califórnia (2). Esse autor afirma que todos os pensamentos mandam um sinal elétrico, que atravessa todo o cérebro e que têm verdadeiras propriedades físicas e ensina a perceber como eles são reais com a seguinte sequência:  1) você tem um pensamento; 2) uma transmissão elétrica atravessa seu cérebro; 3) seu cérebro libera agentes químicos; 4) você se torna consciente do que está pensando.
   O conceito de que algo não tangível existe pode ser percebido por simples experimento. Basta a pessoa concentrar sua atenção na observação do seu corpo, como se estivesse fora dele. Verificar sua posição e sua aparência. Apreciar seu cérebro em ação, com seus disparos elétricos e sua secreção de substâncias químicas mensageiras. A seguir, observar as sensações físicas que está tendo, como calor, frio, prazer, incômodo, dor, prurido ou qualquer outra. Prosseguindo, pode observar as emoções que está sentindo naquele momento, se prazerosas, como calma, alegria,  ou desprazerosas, como  preocupação ou medo. Avançando mais, pode observar os pensamentos que estão dominando sua atenção agora, identificar se são pensamentos construtivos, neutros  ou tóxicos.
   Nesse ponto do experimento, pode-se perguntar: quem é o observador? Não pode ser o corpo, pois este está sendo objeto da observação; também não é o cérebro nem são as emoções nem os pensamentos, porquanto da mesma maneira estão sendo observados. Quem, então, está observando? Pode-se entender, nesse experimento, que o observador não é o mesmo que o  corpo, nem o mesmo que o  cérebro nem as  emoções nem os pensamentos. Então, pode ser  algo não material na composição  do ser humano?
   As pesquisas em psiconeuroimunologia demonstraram, desde seu início, que os pensamentos, que são vibrações,  condicionam o funcionamento do cérebro por  sua transdução, no hipotálamo  em   variadas misturas de neurotransmissores,  neuropeptídios e neurormônios, os quais  atuam sobre os sistemas imunológico e endócrino alterando seu funcionamento.
   Essa ação da mente sobre o cérebro está hoje comprovada por pesquisas de neuroimagem com os recursos da   tomografia por emissão de pósitrons e a ressonância magnética funcional. Não há dúvida de que a mente modifica o cérebro, embora a sensibilidade dos aparelhos ainda não tenha permitido verificar como exatamente se dá essa transdução de uma vibração em substâncias químicas.
   Roger Sperry, que foi professor no Instituto de Tecnologia da Califórnia e recebeu o prêmio Nobel em fisiologia e medicina, em 1981, defendeu a teoria de  que estados mentais podem agir diretamente sobre estados cerebrais, até mesmo afetando a atividade eletroquímica em neurônios.
   Em 1987, Jeffrey Schwartz, neuropsiquiatra da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, pesquisador no campo da aplicação da neuroplasticidade ao transtorno obsessivo-compulsivo, iniciou uma investigação sobre  como um tratamento de pacientes obsessivo-compulsivos poderia mudar o funcionamento do cérebro com uma terapia cognitiva baseada na plena atenção. Com controle por tomografia por emissão de pósitrons, ele verificou que esses pacientes apresentavam hiperatividade do córtex frontal orbital e do corpo estriado e ouviu deles que se  sentiam como que  comandados pelo cérebro, embora soubessem muito bem que não precisavam daqueles comportamentos repetitivos. Criou uma estratégia de quatro passos: 1) Renomear (“eu sei que não preciso disso, é meu cérebro gerando outro pensamento obsessivo”); 2) Reatribuir (“não sou eu, é meu transtorno); 3) Refocalizar (mudar a atenção para alguma outra coisa, mesmo que por segundos); 4. Revalorizar (reconhecer os pensamentos perturbadores como sem sentido, falsos, como sinais cerebrais errôneos). Após dez sessões de terapia, sem nenhum medicamento, 12 entre 18 pacientes   mostravam melhora significativa, acompanhada de acentuada diminuição da atividade do córtex frontal orbital. Esse foi o primeiro estudo que comprovou que mudanças mentais intencionais podiam alterar a química cerebral (3).
   Diante dessa comprovação e de outras, que se seguiram, pode-se questionar: e se os pensamentos forem criados por algo imaterial, situado em algum lugar inalcançável pela fisiologia, dentro do espectro eletromagnético ou em alguma outra esfera das vibrações do universo, que coincidiria com o que se convencionou chamar mente? Isso resolveria a questão da ação dos pensamentos sobre o cérebro. Nesse caso, porém, surge uma complicação adicional: aquele que observa a mente tem o poder de mudar seus pensamentos, como é experiência de qualquer pessoa e como a técnica de Schwartz demonstrou. Ao se dar conta de que um pensamento lhe causa mal, o observador pode comandar a mente a produzir outro tipo de pensamento. Por exemplo, alguém que pense que algo não vai dar certo em algum objetivo pode concluir que, assim como pensa negativamente, pode pensar positivamente e optar por pensar que aquilo poderá dar certo, se ela agir com seus recursos e empenhar-se efetivamente. E aí, tem-se que a mente já não se governa, senão o seu observador a governa e lhe ordena  pensar desta ou daquela maneira. E, então,  numa comparação com informática, o cérebro seria o executor do conteúdo dos pensamentos, o hardware, e a mente seria  o programa que roda no cérebro, o software; nesse caso, tem que haver um programador, que seria o observador do corpo, das emoções e dos pensamentos. Daí porque o cérebro não analisa, apenas executa o que foi carregado  pelo observador, ou seja, pelo programador.  O que o programador  diz a ele, por meio dos   pensamentos da mente, ele aceita.
 E as pessoas têm essa intuição, pois elas se referem a esse programador como “eu”. Perguntadas sobre quem observa o corpo, elas respondem: “eu”. Sobre quem observa as emoções, a resposta é “eu”. Quem observa os pensamentos, a mesma resposta: “eu”. Isso significa que o “eu” é quem cria o programa, que vai acionar o cérebro.  Os próprios neurocientistas afirmam: você pode usar a  mente para  mudar o cérebro (4), mas não explicam  a que “você” eles se referem. Quem  é esse “eu”, que as pessoas dizem? Pode ser o espírito, a alma, o Self, a consciência ou que nome se lhe dê. O fato é que ninguém atribui ao seu cérebro a decisão de mudar seus pensamentos. Ninguém diz: o meu cérebro me mandou ficar estressado ou  gostar de você ou lhe desejar bom dia. Donald D. Hoffman, professor de ciências cognitivas na Universidade da Califórnia, em Irvine, propõe a teoria do realismo consciente e afirma que todos os seres humanos somos agentes conscientes e que a consciência vem primeiro, a matéria e os campos dependem dela para existirem (5).
   Portanto, criada pelo cérebro ou existente naturalmente, há algo onde se geram os pensamentos ou por onde eles transitam, a que se dá o nome de mente, algo estranhamente muito poderoso,  a ponto de  criar a realidade.  Tudo o que foi feito pelo ser humano antes de se manifestar na matéria existiu no pensamento de alguém. Desde um simples copo até um avião supersônico, um radar ou uma mortífera bomba de nêutrons, tudo foi concebido no pensamento de alguém para depois surgir como obra concreta. Isso é óbvio. Se assim é, pergunta-se: por que o organismo humano e tudo o que compõe a natureza teriam surgido do nada, sem serem  antes pensamentos de uma mente?
   Outro simples e comum experimento mostra como a mente produz efeitos fisiológicos: ao criar a representação mental de que se está espremendo um limão na língua, quase todas as pessoas têm suas glândulas salivares ativadas, como se o limão fosse real e, não, apenas um pensamento expresso por  uma palavra. Se a mente pode isso, o que mais ela poderá no organismo? Por que as doenças, pelo menos em parte, não poderiam vir da mente? Por que a saúde não poderia, mesmo parcialmente, ser construída na mente?

Mente consciente e mente inconsciente
   Os que trabalham com psicodermatologia já têm essas noções na sua concepção de medicina. Por isso, integram a mente nas conjecturas dos quadros clínicos e nas suas orientações terapêuticas. E sabem também que a mente, seja ela o que for, tem uma parte consciente e outra parte inconsciente. A parte consciente é aquela que dirige os pensamentos a cada instante, que analisa, julga, compara, pondera, decide, que raciocina.
   A parte inconsciente é  um repositório de todas as capacidades, crenças, hábitos e atitudes, que ficam armazenadas,  e todas adaptações  ou inadequações do indivíduo, que ficam gravadas e das quais a pessoa não se dá conta, a não ser por ocasião de uma introvisão por algum evento significativo ou no curso de um processo terapêutico. A mente inconsciente  não tem a capacidade de pensar, apenas aceita e guarda tudo o que a mente consciente envia para ela como sendo verdade. São ideias, pensamentos, atitudes, valores, princípios.
   A mente inconsciente trabalha com a emoção, não com a razão. Todos os eventos vivamente ligados a uma intensa emoção ficam na mente inconsciente e determinam o comportamento sempre que algo evoque aquela emoção, mesmo que a pessoa não se lembre de por que a sente.
   Todo o conjunto de crenças, construído pela pessoa ao longo dos seus anos de vida, mas principalmente até os sete anos de idade, fica no  inconsciente e dirige suas acões. Forma o seu paradigma, isto é, aquilo que a pessoa tem como verdade em todos os campos da vida, que faz com que ela atue desta ou daquela maneira e, quando indagada por que age assim, ela responde que não sabe, que sempre foi assim ou porque viu sua mãe ou seu pai agir daquele jeito ou cria uma interpretação no momento. Toda a atividade mental de cada pessoa é inconsciente, exceto o que está no foco consciente a cada instante.  Basta lembrar que todas as funções do organismo, que não estão sob o comando da vontade, realizam-se independentemente de o indivíduo se lembrar de que os sistemas respiratório, cardiovascular, digestório, urinário, o baço, o pâncreas, os órgãos linfóides, os sexuais precisam estar funcionando. E mesmo as ações conscientes, como caminhar, abrir uma porta, dançar, dirigir, etc. se compõem de uma intenção (pensamento consciente)  e de inúmeros eventos inconscientes, como a contração e dilatação sinérgica de músculos, para que se realizem, constituindo uma sequência de eventos não controlados pelo consciente.
   Se a mente inconsciente tem o poder de controlar todas as inúmeras reações que se passam em cada célula a cada segundo (seis trilhões, conforme Chopra) (6), seu poder é incomensurável. O inconsciente é o repositório de todas as capacidades do indivíduo, a maioria das quais quase nunca vem ao campo consciente. É por isso que todas as pessoas já tiveram a experiência de passar por algum fato extraordinário e, depois, ao pensar como conseguiu vencê-lo, dizer: Não sei de onde eu tirei força (ou habilidade ou capacidade) para fazer o que fiz; nunca pensei que seria capaz disso. Essa competência ela não tirou do nada,  sempre esteve dentro dela e a sua disposição, mas nunca tinha sido reconhecida a ponto de ela não saber que a tinha.
   Assim como o inconsciente detém as capacidades da pessoa, ali se encontram também suas fraquezas, armazenadas sob a forma de crenças limitantes. O fato de essas crenças não estarem conscientes não impede que funcionem e gerem pensamentos que criam dificuldades e são responsáveis por perturbações energéticas e por influxos químicos desequilibrantes.
   É na esfera inconsciente que se situam as origens  de muitas dermatoses,  principalmente nas pessoas que sofreram algum trauma emocional não resolvido, que levou a um estresse pós-traumático, ou naquelas que não aprenderam com as vivências da infância e sofrem de  medos cujas causas não estão mais presentes, nas que têm mania por doença e cultivam assuntos  doentios, nas que se identificam com doenças que elas vêem em  outras pessoas, nas cronicamente ansiosas, nas estressadas, nas que sempre se  sentem  vitimas, nas que se crêem impotentes para vencer ou deserdadas da sorte. Elas não agem assim porque querem, mas porque há um impulso inconsciente, que as leva a esses comportamentos. E não é acaso o surgimento de doenças nessas pessoas, como todos os que prestam atenção à interação mente-corpo observam cotidianamente.

Cérebro e mente interagem
   No momento atual, a situação das pesquisas nos traz à situação de saber que a atividade cerebral atua sobre a mente e que esta também age sobre o cérebro. Existe, pois, uma interação permanente entre cérebro e mente.
   Os cientistas materialistas ainda não conseguiram meios de provar sua teoria, tomada como definitiva, de que a mente é produto do cérebro. Têm como certo e indiscutível que o  não físico não pode se manifestar no físico. Como diz Leonard Mlodinow, professor de física no Instituto de Tecnologia da Califórnia: “Ainda não estamos perto de descobrir a base da ‘mente’ ou da consciência como um fenômeno que resulta das interações entre neurônios. Mas todos os dias surgem novas evidências em apoio à idéia de que experiências mentais, como beleza, amor, esperança e dor são produzidas pelo cérebro físico”. Ao que Deepak Chopra, médico indiano especializado em endocrinologia nos Estados Unidos, autor de inúmeros livros sobre medicina integrativa, saúde e filosofia de vida, retruca: “Por que devemos afirmar que a mente cria a matéria ou vice-versa? Essa necessidade desaparece, se concordarmos que não há um ponto específico nos últimos 13,7 bilhões de anos em que a matéria de repente aprendeu a pensar e a sentir” (7).
   Já os cientistas integrativos, com o emprego dos modernos meios de análise da atividade cerebral,  têm feito progressos nos indícios de que a mente modifica o cérebro. Resta-lhes, entretanto, a questão de comprovar que a mente independe do cérebro, mesmo funcionando no mesmo espaço e dele recebendo estímulos.
   Amit Goswami, físico nuclear indiano, que foi professor de física quântica por 32 anos no Instituto de Física Teórica da Universidade de Oregon, com base na física quântica dá aparente solução a essa questão. Ele não vê problema de dualismo mente-corpo, porque todos os corpos são possibilidades na consciência antes da manifestação. “Consciência não é mente, é o fundamento de todo ser, o fundamento tanto da matéria como da mente. Matéria e mente são ambas possibilidades de consciência. Quando a consciência converte essas possibilidades num evento de colapso de experiência real, algumas possibilidades sofrem o colapso como físicas e algumas como mentais. A consciência é claramente mediadora da interação entre mente e corpo e não existe dualismo. Do mesmo modo que é incorreto dizer que  o azul cria o amarelo ou que o vermelho procede do verde, assim não é uma metáfora aplicável dizer que a mente cria o corpo ou que a mente vem do corpo. Os dois são resultados correlatos de uma única causa de possibilidade, que produz colapso na consciência” (8). (Colapso é a diminuição da energia de velocidade de giro de onda, que se torna mais densa e assume qualquer forma vibratória, de modo que o corpo físico, que recebe e emite vibrações possa traduzir essa informação para que o cérebro a reconheça).

Pressupostos da mente
   Em face  das pesquisas, observações, fatos  e vivências gerais podemos formular os pressupostos da mente. São princípios de ação da mente observáveis, mas cujo mecanismo não foi ainda demonstrado de maneira rigorosamente científica.  Eles  podem dar apoio no manejo de problemas psicodermatológicos e no melhor entendimento da complexa interação pelo qual mente, sistema nervoso, mediadores químicos, sistema imunológico, sistema endócrino, receptores e genes, agindo em intrincada rede, terminam por expressar uma situação de vida como equilíbrio ou desequilíbrio.
   Relacionamos  os seguintes pressupostos da mente:
1.    Tudo o que se passa na mente é processado pelo sistema nervoso e
transmitido às celulas .  O cérebro é a central de execução no organismo. Sem sua participação nada do que se passa na mente pode se transmitido aos órgãos. Suas alterações funcionais e anatômicas interferem nas suas  mensagens para a mente.
2.    O cérebro não analisa. Realidade ou fantasia produzem o mesmo efeito no organismo.
É dessa maneira que as pessoas sofrem mais com coisas imaginárias do que com reais. Se as escolhas estivessem nos neurônios, as fantasias catastróficas, que geram malefícios para o organismo, poderiam ser eliminadas e o malefício seria evitado. Entretanto, o cérebro toma tudo como ordem a executar. É dessa maneira  que funciona o biofeedback, técnica pela qual a mente é capaz de mudar o funcionamento mesmo de órgãos normalmente fora do controle consciente.
3.    O pensamento impregnado de emoção tende a se concretizar. A emoção dá ao cérebro a sensação de realidade e o leva a trabalhar nesse sentido. Se o pensamento e a emoção forem  externalizados por palavras, cresce seu poder. Isso vale para o que é bom e para o que é mau.
4.    A mente inconsciente domina a vida mental e determina o
comportamento por meio do sistema de crenças.  Cada pessoa só se movimenta dentro do limite das suas crenças, que são inconscientes. Para ir além é preciso conscientizar-se das crenças limitantes e transformá-las em crenças facilitadoras
5.    Para a  mente inconsciente o impossível não existe, pois tudo são ondas de possibilidade. Os recursos da mente inconsciente são ilimitados, porque as possibilidades quânticas são infinitas. O que a pessoa decide que pode, conforme as leis do Universo, ela pode. Daí porque, no nível quântico, toda cura é possível.
6.    A mente inconsciente é sensível à sugestão.  Todas as pessoas são inconscientemente  sugestionáveis.  Essa é a base da propaganda subliminar e da hipnose. Todas as pessoas  se sugestionam o tempo todo com pensamentos repetitivos, alguns dos quais  se tornam realidade.  
7.    A mente consciente só processa de 5 a 7 informações
simultaneamente . O resto é  excluído do campo consciente. Quanto mais focalizado o pensamento maior a eficiência.  Este é o princípio da meditação: acalmar a mente para ser mais eficiente consigo mesmo.
8.    Um pensamento ou uma afirmação repetidos muitas vezes tendem a ser aceitos como verdade pela mente inconsciente.
É assim que uma pessoa aceita rótulos que lhe são pregados em família, como incompetente, desastrado, avoado, dos quais decorrem scripts negativos, que vão ser desempenhados por toda a vida, como o da vítima, o do pobre, o do azarado, o do desligado.

Aplicação na psicodermatologia
   O conhecimento desses pressupostos fornece ao dermatologista um recurso a mais  para ajudar o paciente no campo mental, ampliando sua atuação no tratamento das dermatoses.
   Com base no pressuposto número 1, pode-se orientar o paciente sobre os pensamentos que cultiva, explicando que tudo vai impressionar seu cérebro e que daí segue para todas as células do organismo. Sendo assim, convém que suas mensagens sejam sempre nutritivas e amorosas, pois suas células e, mais ainda, como a epigenética  demonstrou, seus genes serão impressionados por elas.
   O pressuposto número 2 ampara essa escolha, já que o cérebro  é executor das ordens mentais. A  escolha dos pensamentos é da consciência,  do Eu, da essência da pessoa, daquele programador da mente. Se  a pessoa se lembrar de uma previsão desastrosa que tenha feito e das sensações desagradáveis que sentiu até que ela não se cumprisse, perceberá que sofreu sem motivo. O fato foi imaginário, mas o sofrimento foi real. Daí porque a pessoa deve sempre escolher e cultivar  pensamentos que gerem sensações prazerosas e amorosas.
   A realidade do pressuposto número 3 já foi experimentada por todas as pessoas. É aquela meta que alguém decide atingir, a qual, naquele momento, é completamente improvável e, muitas vezes, a pessoa nem dos meios necessários dispõe. No entanto, ela cria na mente a imagem do  momento em que ela já tenha conseguido o que quer, percebe-o como real, reafirma seu propósito e como que se desloca para aquele ponto futuro, vê o que vai ver, ouve o que vai ouvir e sente a emoção  que vai sentir como se tudo fosse real agora. Com isso, ela adquire energia e entusiasmo, faz o que está ao seu alcance e vê outras coisas, que não dependem dela, cair nas suas mãos, como se fosse mágica. Apesar da improbabilidade, ela concretiza sua meta, porque mobiliza os recursos da mente inconsciente, que é movida pela emoção. Este processo, que já ocorreu na vida de todos, chama-se visualização e é bem descrito pela diretora da Clínica de Stress e Biofeedback, em Porto Alegre, Ana Maria Rossi, PhD em psicologia clínica e comunicação verbal e mestre em comunicação de massas (9). É um método que pode ser realizado com qualquer paciente até no decorrer da consulta.
   O princípio enunciado pelo pressuposto número 4 pode ser verificado na vida de cada indivíduo apenas pela auto-observação. Basta considerar por que se fazem as coisas de uma maneira e não de outra. Um exemplo muito comum é o da pessoa que está convicta de que não tem pendor para determinada atividade, como falar em público, matemática, dançar, dirigir ou qualquer outra. Isso entrava sua vida, apesar de não haver motivo real para que ela continue com essa crença.   Levar o paciente a analisar alguma crença negativa (“sempre fui ansioso e não posso fazer nada contra isso”), questionar a veracidade dela  e sugerir-lhe uma mudança para o positivo (“como você faz para se manter assim e não ser de outro jeito?”, “e se você conseguisse, como seria sua vida?”, “o que o impede de tentar?”)  pode dar-lhe grande ajuda no tratamento da doença e na sua vida.
   A nova física apoia o pressuposto número 5. Quando alguém imagina algo, aquilo passa a existir em algum nível do Universo. A idéia torna-se real em alguma dimensão vibratória, de onde, por meios e ações adequados, pode concretizar-se.  Qualquer tipo de mudança pode ser admitido, porque é normal que  as partículas se comuniquem de modo não-local, instantaneamente e independentemente de tempo e espaço. São fenômenos como a sincronicidade, o pensamento mágico, a telepatia, as conexões telessomáticas e as curas milagrosas à distancia  entre outros. Portanto, pode-se levar o paciente a pensar no seu objetivo, por grandioso ou impossível que pareça,  e entregá-lo ao inconsciente. Ele pode aparecer na vida da pessoa por não-localidade, uma conexão sem sinal.
   O pressuposto número 6 é bastante testado na prática. As técnicas hipnóticas comprovam a sugestionabilidade da mente inconsciente. Se as pessoas prestarem atenção ao que pensam vão entender que seus pensamentos são traduzidos por palavras para elas mesmas o tempo todo. Quer dizer que as pessoas falam consigo mesmas o tempo todo e, antes de dizerem o que estão pensando para os outros, já disseram para si mesmas. Analisando a qualidade dos seus pensamentos, vão verificar que grande parte deles é negativa e que muitos se cumprem. São profecias autorrealizáveis. É a prática da autossugestão. Então, o papel do médico  é orientar seu paciente a escolher seus pensamentos e só permitir os positivos, para que a autossugestão o leve sempre para ações construtivas para si mesmo e para os outros. A própria maneira de o profissional se expressar para o paciente e as palavras que escolhe  geralmente o sugestionam sobre o tratamento e os autocuidados.
   Extraordinária ajuda dará o médico que instruir seu paciente a meditar, atitude que é fundada no pressuposto número 7. Quanto mais tranquila a mente maior é a eficiência pessoal. E o meio mais efetivo de acalmar e focalizar a mente é a prática da meditação, que pode ser definida como um estado de relaxamento alerta. É de toda conveniência que o dermatologista integrativo tenha sua própria vivência em meditação para transmiti-la convincentemente ao paciente.
    O pressuposto número 8 torna-se claro pela observação de que as pessoas sabem intuitivamente ou por alguma experiência anterior que fazer uma afirmação pode levar a sua concretização, como é exemplo a comum atitude de evitar  falar sobre algum fato que elas não querem que ocorra (“nem quero falar nisso para não acontecer”). Recorde-se  a quantidade de vezes que se diz que não se tem  capacidade para alcançar determinado objetivo  e a comprovação de que realmente ele não é alcançado. E, por outro lado, pelos mesmos aspectos das coisas que se afirma que tem competência de realizar e se consegue fazê-lo. Da maneira como as pessoas pensam elas falam, da maneira como falam elas pensam e assim se sentem e se comportam. Dizer para si mesmo frases positivas, ainda que inicialmente não  se acredite nelas,  pode mudar a  vida de qualquer pessoa. A afirmação positiva de propósitos é um dos meios pelos quais uma pessoa pode mudar seu script de vida de perdedor para vencedor. A frase repetida é gravada no inconsciente e produzirá seus efeitos, como  expõe   Louise Hay, professora e conferencista de metafísica e autora de inúmeros livros sobre autoestima (10).



Conclusão
   O entendimento de que mente é algo real, seja produzida pelo cérebro seja dele independente, e o conhecimento  dos pressupostos da mente possibilitam o uso dos seus poderes no tratamento das dermatoses. Focalizar os aspectos mentais que acompanham o quadro clínico pode eliminar fatores de manutenção ou agravamento das doenças e pode mesmo mudar a vida da pessoa.


Referências
1.     Rita Carter. O Livro de Ouro da Mente. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 248.
2.     Daniel G. Amen. Transforme Seu Cérebro, Transforme Sua Vida. São Paulo: Mercuryo, 2000.
3.     Jeffrey M. Schwartz, Sharon Begley. The Mind & The Brain. New York:
Harper Perennial: 2003, cap. 2.
4.     Rick Hanson, Richard Mendius. O Cérebro de Buda – neurociência prática
para a felicidade. São Paulo: Alaúde Editorial, 2012, p. 33.
5.     Donald D. Hoffman. Conscious Realism and the Mind-Body Problem. Mind
and Matter 2008;6(1):87-121.
6.     Deepak Chopra, Ageless Body, Timeless Mind. New York: Harmony Books,
c. 1993, p. 9.
       7.   Deepak Chopra, Leonard Mlodinow. Ciência e Espiritualidade – dois
              pensadores, duas visões de mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2012, cap. 12.
       8.   Amit Goswami. O Médico Quântico. São Paulo: Cultrix, 2006, pp. 41 e 53.
9.     Ana Maria Rossi. Visualização – atinja o sucesso com os olhos da mente.
Rio de janeiro: Best Seller, 2008.
10. Louise Hay. O Poder das Afirmações Positivas. Rio de Janeiro: Sextante,
2009.