terça-feira, 12 de novembro de 2013

Hipnose clínica: possibilidades em psicodermatologia


   Embora possa ser de grande ajuda em casos psicodermatológicos e outros, a hipnose é desconhecida da imensa maioria dos médicos. Atualmente, com o crescimento da procura dos pacientes por terapias naturais, está aumentando a quantidade de médicos que se interessam por esta técnica, que foi reconhecida como ato médico pelo parecer no. 42 do Conselho Federal de Medicina em 20 de agosto de 1999 com o nome hipniatria.

 

O que é hipnose

   Hipnose é um recurso natural, porque estados hipnóticos são experimentados por todas as pessoas frequentemente sem que saibam que estão hipnotizadas ou mesmo que se auto-hipnotizaram. É aquela situação descrita como “sonhar acordado”, em que a pessoa sabe que está aqui e, ao mesmo tempo, está em outro lugar. Ou quando fica pensativa e “longe” ou quando imerge num livro durante sua leitura ou ao se projetar num filme ou num profundo envolvimento afetivo ou quando se deixa levar pela conversa de alguém e chega a fazer coisas que depois não sabe explicar por que assim agiu, ou na enlevação de uma prece. A pessoa  está consciente, mas é uma consciência alterada, não a consciência da vigília. É o chamado estado de transe hipnótico no qual a atenção está orientada mais intensamente para o interior do que para o exterior, tem uma grande atividade interna sem perder o estado de alerta, ou seja, estando acordada,  conforme Teresa Robles, PhD em psicologia clínica e hipnoterapeuta ericksoniana (A Evolução da Hipnose – por que a hipnose produz mudanças tão rápidas – apostila).

 

Hipnose  e mente inconsciente

   A hipnose se dirige à mente inconsciente, que é o repositório de todos os recursos do ser humano e, na verdade, é quem dirige a vida das pessoas. A mente consciente só consegue processar, a cada momento, de cinco a nove informações simultâneas. Alguém que assiste a uma palestra numa sala, na qual há o som de um circulador de ar, ao acompanhar atentamente a exposição do palestrante deixará de perceber o ruído do aparelho. Isso passará a segundo plano enquanto ela estiver colocando toda a atenção ao que está sendo exposto e só se dará conta do ruído de novo no momento em que o circulador parar de funcionar, quando ficará mais confortável ouvir o palestrante. Ela sabia que havia o ruído, mas ele não estava mais no seu campo consciente. Assim também ela sabia que estava numa sala, sabia a temperatura ambiente, sabia que a porta estava aberta ou fechada, mas essas informações todas, na hora da palestra, foram para algum lugar não consciente. Não desapareceram, pois, no momento adequado, elas voltaram para o campo consciente.  Portanto, a cada instante trazemos à consciência somente aquilo que nos interessa, ficando todo o resto no inconsciente, mas disponível assim que seja necessário.

   No estado de vigília, predominam as funções do hemisfério cerebral esquerdo, onde estão  o raciocínio lógico, a linguagem verbal e a análise em série linear, distinguindo passado, presente e futuro, o qual mantém a atenção focalizada, pensa e raciocina com ideias.  No hemisfério cerebral direito estão a imaginação, as cores, as imagens,  a criatividade, o raciocínio sintético, a linguagem simbólica e metafórica, a subjetividade.

    A mente consciente é identificada com o hemisfério cerebral esquerdo e a mente inconsciente, com o direito.

   Na maior parte do tempo, somos atingidos por  mais de dois milhões de bits por segundo de informação sensorial, segundo o jornalista e consultor de empresas Aldo Novak (O Segredo Para Realizar Seus Sonhos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2008). Não seria possível para o cérebro absorver e processar todo esse volume de informações. Por isso, elas são filtradas pela substância ativadora reticular ascendente (SARA), que reduz tudo isso a 134 bits.  É esse processo que nos permite dirigir nossa mente apenas ao que julgamos mais importante para nós a cada momento. Se a pessoa está com muita fome, ao andar pela rua ela vai enxergar preferentemente um restaurante ou lanchonete e não vai se fixar  na loja de ferragens, por exemplo.

  A mente inconsciente é como o arquivo de tudo o que foi aprendido e perfaz toda a vida mental, exceto o que está na mente consciente. Todas as nossas Ações são realizadas sem que precisemos estar atentos a cada pormenor que as compõe. A simples intenção de realizar determinado ato desencadeia uma série de acontecimentos no organismo, que levam a sua concretização. Se alguém tem a intenção de abrir uma porta, no mesmo instante todos os músculos estarão em condições de realizar contrações e distensões específicas e coordenadas, para que a pessoa se levante, dirija-se à porta e acione a maçaneta do jeito certo para abri-la. Ela não está comandando conscientemente cada mínimo movimento nem cada informação bioquímica, que lhe possibilita funcionar desse jeito e, no entanto, tudo ocorre do jeito que tem que ser. Alguém ou algo tem a capacidade de executar as informações na sequencia exata, para que a intenção se torne um ato. Assim se passa em tudo o que constitui a vida das pessoas. Ninguém está com plena atenção ao ato de escovar os dentes, tomar banho, vestir-se, dirigir um carro, escrever, andar de bicicleta, etc. Ao mesmo tempo, todo o funcionamento do aparelho respiratório, do coração, da tireóide, do baço, a regulação da pressão arterial, da respiração, da temperatura, do processo de cicatrização  e de todo o funcionamento orgânico, exceto aqueles que podem, até certo ponto,  ser controlados pela vontade,  dá-se sem que a pessoa tenha a mínima noção do que está ocorrendo e do que é preciso para que tudo continue em equilíbrio. Mais ainda: mesmo ocasionais atitudes de defesa e proteção e eventos curativos, nunca antes postos em prática, são determinados por algo não consciente. É o caso de ações que a pessoa realiza sob uma pressão momentânea e, logo em seguida, espanta-se com o que fez, porque nunca imaginou que tivesse aquela capacidade nem de onde tirou forças para aquilo. Isso significa que ela tinha aquele poder e não sabia, ele estava em algum lugar do qual ela não tinha consciência, mas lá estava armazenado e disponível no momento exato. Por isso, diz-se que todo comportamento, todo aprendizado e toda mudança são inconscientes.

   Se a mente inconsciente guarda todos esses recursos, qual seria o alcance de uma técnica que abrisse caminho para que eles fossem utilizados para a cura? Virtualmente, não haveria limites.

   É  à mente inconsciente que se dirige a hipnose clínica com o objetivo de liberar seu conhecimento e seu poder para benefício da pessoa. Se a mente inconsciente é o acervo de tudo o que o indivíduo sabe, aprendeu, experimentou e de tudo o que ele é capaz, o único limite para que o que lá está contido se torne realidade é imposto pelo raciocínio lógico e pelas crenças da pessoa.

 

Comprovações fisiológicas

   Antes vista com desconfiança pelos médicos, a hipnose tem sido confirmada como um fato não só psicológico como também biológico pelos avanços nas pesquisas científicas. Os efeitos da hipnose e da sugestão foram investigados com o emprego de tomografia por emissão de pósitrons (PET), que media o fluxo sanguíneo  cerebral regional (rCBF), e por eletrencefalografia (EEG). A hipnose se acompanhou de aumento significativo de rCBF e atividade delta no EEG claramente correlacionadas uma com a outra. Aumentos máximos no rCBF também foram observados na parte caudal do sulco cingulado anterior direito e bilateralmente nos giros frontais anteriores. A hipnose acompanhada de  sugestão produziu ainda amplo aumento no rCBF nos córtices frontais, predominantemente no esquerdo. Essas evidências forneceram uma nova descrição da base neurobiológica da hipnose, demonstrando padrões específicos de ativação cerebral associados ao estado hipnótico e ao processamento de sugestões hipnóticas, conforme as conclusões dos autores do estudo (Pierre Rainville e cols. Cerebral Mechanisms of Hypnotic Induction and Suggestion. J Cogn Neurosci   1999; 11(1):110-25).

   Outra demonstração de que a hipnose produz alterações no cérebro veio à luz pelo trabalho de Stephen M Kosslyn e cols., da Universidade de Harvard (Hypnotic Visual Illusion Alters Color Processing in the Brain. Am J psychiatry  2000;157:1279-84).  Utilizando um painel que mostrava áreas com cores diversas e o mesmo painel com as áreas em tons de cinza, os autores verificaram que, sob hipnose, eram ativadas as áreas que processam cores em ambos os hemisférios, quando os sujeitos recebiam a sugestão de verem as cores, mesmo quando lhes era apresentado o painel com tons de cinza.  Essas regiões cerebrais tinham sua atividade diminuída, quando os sujeitos da experiência recebiam a sugestão de que estavam vendo o painel em tons de cinza, ainda que se lhes apresentasse o painel colorido. Por meio de  tomografia por emissão de pósitrons ficou evidenciado que, quando os participantes eram solicitados a perceber cores, vendo-as ou não, ativava-se a área das cores somente no hemisfério direito, o mesmo ocorrendo, quando lhes era pedido que vissem os tons de cinza. Entretanto, quando hipnotizados, ambos os hemisférios responderam igualmente. Portanto, o lado esquerdo só foi ativado sob hipnose.

 

O caminho da hipnose

   A maneira como a hipnose funciona ainda é desconhecida. Pesquisadores têm indícios de que a formação reticular, situada no tronco cerebral,  seria um elo entre a voz do hipnoterapeuta e o cérebro do paciente. As palavras ouvidas, processadas pelo nervo auditivo, chegariam à formação reticular e se espalhariam por todo o cérebro, causando uma concentração da atenção ao atingir o lobo frontal.  Na formação reticular, a função de ativação do córtex e manutenção do estado de vigília é realizada pelo SARA, que possui conexões recíprocas com o córtex cerebral.  Se o córtex não for ativado pelo SARA, todas as mensagens somestésicas e estímulos sensoriais que chegam até ele, pelas vias aferentes, permanecerão inconscientes. Todo estímulo que inibir o SARA provocará um estreitamento da consciência e deixará aberta a mente inconsciente.

   Dispondo desses conhecimentos,  a hipnose é induzida  por diversos métodos, tendo todos em comum os recursos de relaxamento, monotonia, linguagem repetitiva e redundante, de modo que as informações neurais vindas do exterior por meio dos órgãos sensoriais deixam de ativar o SARA e, assim, não atingem o córtex , não sendo mais percebidas conscientemente.

 

Formas de hipnose clínica

   Há várias formas de hipnose clínica, sendo as mais comumente utilizadas a hipnose clássica, que emprega palavras ou estímulos visuais, a hipnose ericksoniana, desenvolvida pelo psiquiatra americano Milton H. Erickson, que usa uma linguagem definida como precisamente vaga, e a hipnose condicionativa, ensinada pelo hipnoterapeuta Luiz Carlos Crozera, que se baseia no relaxamento muscular progressivo.

 

Aplicação em medicina

   A hipnose tem um vasto campo de aplicação em medicina com respostas às vezes muito rápidas. Tudo depende de como o inconsciente da pessoa processa as sugestões de cura, havendo pessoas mais hipnotizáveis do que outras.  Em média, pode-se dizer que 92 por cento das pessoas é suscetível aos processos hipnóticos.     

   Em psicodermatologia, a hipnose é basicamente aplicável àquelas dermatoses com mais influência emocional, como prurido e escoriações psicogênicas, tricotilomania, psoríase, vitiligo, dermatite atópica, reações a alimentos e medicamentos, transtorno dismórfico corporal, neurodermite, mas pode ser virtualmente empregada para qualquer doença adquirida, sendo proverbiais muitos resultados em verrugas vulgares, um quadro aparentemente muito suscetível à sugestão. Quem vai operar o processo é a mente inconsciente e ninguém sabe de tudo o que ela é capaz.

 

A hipnoterapia

   Um trabalho com hipnose consiste numa fase de anamnese muito pormenorizada, que tem que incluir as experiências positivas e as crenças facilitadoras do paciente e a mudança que ele quer realizar. Estas orientarão o rumo do que o médico   deverá dizer ao inconsciente durante o transe, pois as sugestões precisam estar de acordo  com o que a pessoa aceita e quer. A sessão propriamente dita se inicia com uma indução, baseada na atenção à respiração seguida de  um relaxamento profundo, reduzindo, assim, ao mínimo os estímulos ao SARA. Quando o paciente atinge o estado de transe, transmitem-se as sugestões de cura, o que pode ser feito por ordens diretas,  metáforas ou palavras de alto significado para o hemisfério direito, como aprendendo, desfrutando, saudavelmente, agradavelmente, sendo comum se utilizarem todos os recursos na mesma sessão. O estado de transe pode ser superficial, médio ou profundo, mas geralmente o paciente varia o nível várias vezes. Após as sugestões, dão-se comandos pós-hipnóticos a serem acionados depois da sessão e pelos próximos dias, semanas ou meses, a fim de perenizar o resultado obtido na sessão. A seguir, traz-se o paciente de volta para o momento presente instruindo-o a reter todo o aprendizado da sessão e sentir-se melhor do que antes.Entre o início e o término de uma sessão decorrem de 20 a 60 minutos e podem ser necessárias várias sessões, mas, às vezes, espantosamente o paciente consegue o resultado em uma única sessão.

   De modo geral, os pacientes se sentem muito satisfeitos, calmos e relaxados após uma sessão de hipnose e ficam muito agradecidos a quem a realizou pela prazerosa experiência que tiveram.

 

Conclusão

   Em conclusão:

1.      hipnose é um recurso ao alcance de quem se interessar em ampliar sua

capacidade de auxiliar seus pacientes;

2.      o mecanismo da hipnose não é conhecido, mas seus resultados são evidentes e seus efeitos biológicos comprovados;

3.      muitos quadros clínicos, para os quais os recursos médicos são limitados,

podem beneficiar-se da hipnose;

4.      a hipnose aplicada por pessoas preparadas é compensadora para quem

aplica e muito agradável para quem recebe;

5.      qualquer médico está autorizado pelo CFM a trabalhar com hipnose,

desde que tenha formação adequada e experiência na técnica.               

 

 

Roberto Azambuja

Hospital Universitário de Brasília

robertodoglia@gmail.com

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Antroposofia e dermatologia

A antroposofia é uma ciência de cunho espiritual, baseada nos estudos de Rudolf Steiner do começo do século XX, que elucidou conhecimentos da cosmogênese (Antigo Saturno, Antigo Sol, Antiga Lua), aliados aos estudos fenomenológicos das plantas de Goethe, que observava a natureza e suas particularidades.

Rudolf Steiner via a necessidade do médico alcançar mais os processos de seus pacientes, entendendo os mesmos de acordo com a evolução do cosmos.

Assim, ele vislumbra o homem em 4 corpos, que correspondem a 4 elementos. São eles: os corpos físico ou mineral, o corpo etérico ou vegetal (dos líquidos), o corpo astral (relacionado aos astros ou zodíaco) ou animal (das emoções) e o Eu, que é o espírito humano.

Existe ainda a abordagem segundo a trimembração do nosso organismo físico em 3 sistemas, que são o neurossensorial, o rítmico e o metabólico motor.

E a correlação do ser humano com os 7 arquétipos planetários: Saturno, Lua, Júpiter, Mercúrio, Marte, Vênus e o Sol.

A interrelação entre estes corpos, os sistemas e os arquétipos planetários é realizada ao se fazer a anamnese e exame físico do paciente, sendo que o médico procura estabelecer conexão com o seu paciente no sentido de  alcançar a cura deste.

A cura é proposta não só através de medicamentos (feitos à base de minerais, plantas, órgãos dinamizados), mas também através da biografia de vida e de práticas como euritmia (movimentos de cura através de vogais, consoantes e fonemas), massagem rítmica e terapia artística.

A antroposofia tem atuação em vários setores: pedagogia, arte, odontologia, farmácia, agronomia e psicologia.
Na antroposofia, procuramos participar de grupos de estudo e também praticar meditações propostas para nos aprofundarmos cada vez mais nos aprendizados deixados.

Os ensinamentos da antroposofia em relação aos sistemas neurossensorial, rítmico e metabólico incluem a pele como estrutura integrante do sistema neurossensorial (de mesma origem embrionária que o sistema nervoso), e a própria pele é trimembrada em sistema neurossensorial (epiderme), rítmico (derme) e metabólico (hipoderme).

Assim, as patologias são abordadas por estes aspectos, sendo também consideradas as alterações de cor, forma, temperatura, espessura  (cistos tumores, abscessos, eczemas) ou região corporal da pele afetada  e relacionadas aos aspectos dos corpos físico, etérico, astral e eu, que estejam atuando de forma inapropriada no sistema neurossensorial.

O chumbo é o metal relacionado à pele, que está associado ao Planeta Saturno, que traz um paralelo com limites, segurança e estrutura.  Tratamos com o olhar sob o ponto de vista dos arquétipos planetários através dos metais que a eles correspondem. Estes metais são sempre dinamizados, nunca estando presentes de forma ponderal nos medicamentos.  

Algumas plantas (vegetais) também são arquetípicas para alguns órgãos, e acabam sendo bastante empregadas no tratamento destes órgãos específicos.

Nas dermatoses onde existe um componente emocional presente como desencadeante ou agravante, o uso de medicamentos antroposóficos é bem indicado, bem como em patologias de origem inflamatória, infecciosa ou autoimune.  

Importante ressaltar que o uso de medicamentos antroposóficos não impede ou interfere no uso de medicamentos alopáticos, podendo ser usados concomitantemente.

Ainda, cada paciente traz características e alterações dinâmicas individuais, de forma que um medicamento não é visto como o que trata determinada doença, mas sim, ele fará parte do tratamento daquele paciente no momento específico por ocasião daquela doença.

Acima de tudo, a consulta sempre vai de encontro a uma abordagem geral, permeando aspectos biográficos de vida e da saúde, elucidando muitos porquês que impactam nas dermatoses e na vida dos nossos pacientes.
     
Gisele Totaro
Formação em medicina e residência em dermatologia na Faculdade de Medicina do ABC.
Formação em medicina antroposófica pela Associação Brasileira de Medicina Antroposófica.
Trabalha em consultório e na Casa de Rudolf Steiner.
Atua em dermatologia, ensino médico, medicina antroposófica, numerologia e terapia de vidas passadas. e-mail: giseletotaro@hotmail.com

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Como agir quando o paciente se declara estressado

Todos os dias, ouvimos pacientes perguntarem: “Doutor(a), isso pode ser provocado por estresse?”. Em seguida, afirmam: “Eu sou muito estressado”.

Essa queixa geralmente embaraça o médico, que não é preparado, durante seu curso e residência, para lidar com questões emocionais. O ainda vigente modelo biomédico estabelece que tudo tem que começar e terminar obrigatoriamente no nível molecular. No entanto, se ouvirmos os pacientes atentamente, perceberemos muitas referências a emoções junto com as queixas físicas.

Como agir diante dessa situação? Ignorar? Dar conselhos do tipo: “Não esquente a cabeça”, “Esqueça isso”,“Você não deve se estressar”?

Isso não funciona, porque o médico não explica como o paciente conseguiria pôr em prática esses conselhos.

De modo geral, quem se queixa de estresse nada faz contra ele. Se tivesse tido orientação adequada, já teria procurado um psicoterapeuta. Acontece que muitas pessoas, por falta de esclarecimento, não acreditam em psicoterapia, outras não sabem qual terapeuta consultar. Como confiam no médico, principalmente se tiverem boa relação com este profissional, esperam que ele os atenda na esfera emocional também, mesmo porque, para o paciente, sua situação de vida e seus sintomas são uma coisa só, uma fazendo parte da outra.

O reconhecimento do nível de estresse em que a pessoa está vivendo pode torná-la consciente de que precisa fazer algo para evitar mais consequências do que as que está sentindo como decorrentes dele. E o médico pode, durante a consulta, com algumas simples frases, ajudar efetivamente nessa conscientização, de modo que leve o paciente a tomar uma atitude produtiva com relação ao estresse em vez de se conformar em ser estressado.

Tudo se resume a perguntas que podem fazer a pessoa tomar conta de si mesma, entendendo que o estresse emocional é sempre uma questão de como se interpretam os fatos.

Damos, a seguir, uma sequência de perguntas terapêuticas, que estimulam o paciente a pensar e talvez decidir a adotar providências para viver melhor:

1. (Paciente) Doutor, sou muito estressado. Qualquer coisa me estressa.

(Médico) Como você sabe que é estressado?

(Paciente) – (Relata o comportamento e as sensações que lhe indicam como se estressa).

2. (Médico)O que você já fez para se livrar disso?

(Paciente) (Geralmente, sua resposta é “nada”).

3. (Médico) Você sabe o que o estresse provoca no seu físico, na sua mente, nas suas emoções e no seu comportamento?

(Paciente) (Tem alguma ideia).

(Médico) (Pode mostrar-lhe alguma figura com os efeitos do estresse ou contar-lhe o que se passa).

4. (Médico) Quanto tempo mais você planeja viver estressado e não fazer nada para sair disso?

(Paciente) ?

5. (Médico)Como você faz para entrar em estresse?

(Paciente) Não sei.

(Médico) Se você soubesse, como seria? Imagine que sabe como faz.

(Essa pergunta não dá outra saída a não ser dizer alguma coisa, porque todas as pessoas imaginam coisas o tempo todo. Se o paciente imaginar que sabe, ele encontrará uma resposta).

(Paciente) Eu penso… ou Eu digo… (exemplos: “não dou conta”, “isso é demais para mim”, “eu sabia que iria me dar mal”, “tudo acontece contra mim” ou outras frases negativas).

(Médico) E se você pensar ou disser o contrario disso, o que pode acontecer?

(Paciente) Não vou ficar estressado.

(Médico) O que o impede de pensar ou dizer outra coisa?

(Paciente) Nada impede, mas não consigo. Eu sempre fui assim.

6. (Médico)Você gostaria de fazer uma avaliação rápida do seu estresse?

(Paciente) (Geralmente responde que sim).

O médico lhe dá o questionário de avaliação do estresse para ele preencher (existe grande variedade de questionários para avaliação de de estresse, alguns muito complexos. Para os fins desta intervenção, o presente questionário, muito simples, dirigido à sintomatologia do estresse, é satisfatório).

Após a avaliação, o paciente se sente motivado a falar sobre as situações que o afetam.

7. (Médico) Qual estresse pode ter relação com essa doença e qual a emoção mais presente nessa situação?

O paciente entende, então, que só tratar da doença sem cuidar do estresse vai apenas remediar o problema físico sem retirar o elemento contribuinte ou causador.

Então, vem a pergunta decisiva, que vai indicar se o paciente usa o estresse como elemento de manipulação ou justificativa ou se quer realmente se livrar dele.

8. (Médico) Você está disposto a assumir responsabilidade pela eu tratamento e sua saúde?

Se a resposta for “talvez”, desista. Ele não vai fazer nada.

Se a resposta for “sim”, o médico deve ensinar-lhe a respiração diafragmática, que tranquiliza, traz a consciência da pessoa para o que ela está fazendo aqui e agora e lhe dá domínio sobre seus pensamentos e emoções. Para ensinar essa respiração, coloca-se o paciente deitado com

livro fino sobre o umbigo e orienta-se a respirar fazendo o livro subir e descer.

Ele aprenderá instantaneamente como usar a respiração para comandar sua mente e mudar seus pensamentos para algo capaz de produzir-lhe calma, alegria, satisfação, bem-estar.

Cinco respirações diafragmáticas três vezes por dia devem fazer parte da prescrição do médico. Se o paciente obedecer, ela estará diferente na próxima consulta.

Com essas perguntas pertinentes, o médico interessado pelo estado biopsicossocial do seu paciente pode beneficiá-lo para sempre em questão de minutos.

Para ser convincente e motivador, porém, é imprescindível que o médico pratique a respiração diafragmática e a incorpore à sua vida e sinta seus naturais efeitos nas emoções e na saúde em geral.

Roberto Azambuja

Hospital Universitário de Brasília

AVALIAÇÃO DO ESTRESSE

Para avaliar seu nível de estresse, considere com que frequência você tem sentido os seguintes sintomas nos últimos três meses.

Classifique segundo esta escala: 5 = todos os dias nos últimos três meses;

4 = quase todos os dias nos últimos três meses;

3 = várias vezes por mês nos últimos três meses;

2 = uma vez por mês nos últimos três meses;

1 = uma vez nos últimos três meses;

0 = nenhuma vez nos últimos três meses.

1. ( ) Dificuldade para dormir ou sono agitado.

2. ( ) Dor de cabeça por tensão ou dor na musculatura do pescoço ou dos ombros.

3. ( ) Azia, ardência, indisposição ou dor no estômago.

4. ( ) Fadiga, cansaço fácil, falta de energia.

5. ( ) Dificuldade de concentracão, pensamentos indesejados, diálogos internos incessantes.

6. ( ) Tendência ao esquecimento de fatos ou coisas ou a frequentes acidentes.

7. ( ) Sensação de fôlego curto ou falta de ar.

8. ( ) Alterações na alimentação: tendência a comer mais do que o normal ou perda do apetite.

9. ( ) Tremores musculares, principalmente nas pálpebras.

10. ( ) Sensação de coceira, picadas ou agulhadas em qualquer parte da pele.

11. ( ) Desânimo ao levantar pela manhã.

12. ( ) Suor excessivo nas mãos ou axilas ou palpitações no coração.

13. ( ) Nervosismo, crises de irritação, perda do controle do que diz ou faz.

14. ( ) Angústia, sensação de não ter saída, de estar encurralado.

15. ( ) Ansiedade, apreensão, tensão, preocupação, medo em relação ao futuro.

16. ( ) Acessos de raiva no trabalho, no trânsito, em casa. Explosão por coisas insignificantes.

17. ( ) Impaciência, mau humor constante, irritabilidade fácil.

18. ( ) Período de depressão, desalento ou tristeza exagerados sem motivo claro, podendo estar acompanhado de baixa autoestima.

19. ( ) Dor leve no peito, quando se sente pressionado(a), preocupado(a) ou sem alternativa.

Total de pontos:

Níveis de estresse: 0 – 19 – Normal, saudável, bom manejo dos fatores de estressantes.

20 – 38 –Estresse leve.

39 – 46- Estresse moderado.

47 – 56 –Estresse intenso.

57 – 95 –Estresse muito intenso, risco de esgotamento.

 
Questionário adaptado por Roberto Azambuja, médico dermatologista CRM-DF 636.
Sócio da International Stress Management Association – Brasil




Emoções, genes, saúde e doença                                                                                                  

 O ser humano, como tudo no Universo, é manifestação de energia. Esta se apresenta sob formas diversas, sendo diferençadas  pela frequência vibratória. O corpo físico é uma forma densa de energia. Além da energia do  corpo físico, todos possuem pensamentos e emoções e ainda outras manifestações, como sentimentos, consciência e espírito. São formas sutis de energia. Podemos entender que o que forma o ser humano são diversos níveis de frequência vibratória, todos ocupando o mesmo espaço, como as ondas de rádio e de televisão de múltiplos canais estão no mesmo espaço e podem ser captadas seletivamente por aparelhos adequados.

Os  corpos físico, mental e emocional reagem em conjunto a cada instante, nada existindo na mente e nas emoções que não seja sentido no físico e nada ocorrendo no físico que deixe de  alterar as  emoções e os pensamentos. Qualquer tipo de separação é mera invenção didática. Portanto, as mudanças físicas quase sempre  são antecedidas de  pensamentos e emoções alterados  e sempre provocam, pela sua presença e prejuízo à vida funcional do ser humano, emoções desprazerosas e pensamentos de  alerta ou preocupação, gerando mal-estar e tensão. A conseqüência dessas mudanças é uma perturbação na energia do organismo, que se manifesta por distúrbios em áreas das quais depende o bom funcionamento dos órgãos e sistemas.

O processo se passa no âmbito da comunicação celular. Descobertas científicas das últimas décadas trouxeram a lume verdadeiras mágicas que ocorrem em todos os níveis à custa de sinais químicos, elétricos, luminosos e outros, os quais estabelecem uma rede de informação geral. Por meio dela, todas as células se comunicam e tomam conhecimento do que se passa em todos os pontos do organismo. Os elementos principais dessa comunicação são peptídios, cadeias de aminoácidos, que se dispõem como contas de um colar de tamanhos diversos, e outros tipos de substâncias. Todas levam mensagens, originadas na mente e transduzidas no  cérebro, a todas as células. Essas mensagens codificadas são recebidas por estruturas protéicas especiais, muito dinâmicas, que vibram e alteram sua forma em milésimos de segundo; são os receptores.  Eles  captam as moléculas mensageiras e, a seguir, descodificam as mensagens trazidas por elas, entendem essas mensagens e as enviam, por meio de mensageiros secundários, ao interior da célula até o código genético. Em resposta, a célula envia  ao cérebro uma mensagem retrógrada com seus próprios mensageiros.

Segundo a Dra. Candace Pert (Molecules of Emotion – the science behind mind-body medicine. New York:Touchstone, 1999), que foi diretora da Seção de Bioquímica Cerebral da Divisão de Neurociência Clínica do Instituto Nacional de Saúde Mental, dos EUA, os mensageiros e os receptores, ao se unirem, produzem as emoções. Eles seriam, na sua visão, as moléculas das emoções. Estas seriam ao mesmo tempo não físicas e físicas. Seriam uma transformação de um tipo  de energia em outro no organismo. Como pensamentos estão sendo produzidos o tempo todo, estimulando o cérebro a segregar moléculas mensageiras e estas estão unindo-se a receptores constantemente, segue que as emoções são um estado permanente do ser humano e  correspondem a pensamentos específicos. No livro Conexão Mente-Corpo-Espírito (São Paulo:Ed. ProLibera, 2009), a mesma pesquisadora afirma: “Num nível bioquímico, nossas moléculas da emoção – ligantes como neuropeptídios e seus receptores – coordenam todas as funções do organismo por intermédio de uma rede interativa de troca de informações. Quando deixamos que circulem, garantimos o funcionamento saudável e nós também ficamos saudáveis. Quando bloqueamos o processo, suprimindo ou negando uma emoção, podemos perder a integridade biológica e psicologicamente. As variações emocionais influem diretamente sobre a probabilidade de o organismo ficar doente ou sadio”.

O resultado imediato das emoções é a sensação que provocam e pode ser de  bem-estar ou de mal-estar. Conforme seu efeito são classificadas em emoções prazerosas ou desprazerosas. As primeiras fariam parte de uma cascata de eventos em que os mensageiros são substâncias químicas capazes de produzir fisicamente descontração muscular, diminuição de freqüência cardíaca e respiratória, modulação positiva dos sistemas imunológico e endócrino e perfeito funcionamento de todos os órgãos, ou seja, o predomínio do sistema nervoso parassimpático. As últimas causam tensão muscular, aceleração da freqüência cardíaca e respiratória, depressão do sistema imunológico e distúrbios no sistema endócrino e alterações casuais em órgãos diversos, isto é, o predomínio do sistema nervoso simpático. A longo prazo, o resultado será influência no estado de saúde ou de doença. Efetivamente, pesquisas têm demonstrado que pessoas felizes e otimistas têm geralmente melhor saúde do que pessoas que cultivam tristeza, depressão, ansiedade,  irritabilidade ou visão negativa da vida. Também têm demonstrado a relação entre emoções desprazerosas e a incidência ou facilitação de um número de doenças que cresce continuamente. Fica clara ainda a dificuldade para a ação dos tratamentos e a piora de prognóstico na evolução de estados mórbidos, quando o paciente vive com esse tipo de emoções. Isso indica que as emoções têm participação ativa na saúde e na doença e, portanto, deveriam ser consideradas como parte do quadro clínico.

Sabe-se que a mudança de uma emoção desprazerosa para uma emoção prazerosa muda o estado energético e bioquímico do ser e muda também seus pensamentos e suas crenças. Tudo isso junto tem ação no corpo físico e vai mudar algo no seu estado, chegando até a ativação dos genes. A ciência epigenética tem demonstrado que os genes não controlam a vida per se, mas conforme os estímulos ambientais e internos  que chegam à membrana das células. Daí, atingem as proteínas reguladoras, que envolvem o DNA. Como afirma o biólogo Bruce H.Lipton, no livro A Biologia da Crença (São Paulo: Butterfly Editora, 2007), “A nova compreensão da mecânica do universo mostra como o corpo físico pode ser afetado pela mente não material. Pensamentos, que são a energia da mente, influenciam diretamente a maneira como o cérebro físico controla a fisiologia do corpo. A ‘energia’ dos pensamentos pode ativar ou inibir as proteínas de funcionamento das células... As emoções não se originam apenas de respostas do corpo ao ambiente. Por meio da autoconsciência, a mente pode usar o cérebro para gerar moléculas de emoção e agir sobre todo o sistema... Enquanto o uso apropriado da consciência pode tornar um corpo doente mais saudável, o controle inconsciente inapropriado das emoções pode causar muitas doenças”.

E isso ainda pode ser transmitido a uma, duas ou três gerações, talvez  constituindo a chave para o entendimento da patogenia de doenças complexas do adulto e de efeitos cumulativos do ciclo de vida e da etiologia de doenças familiares,  conforme Zucchi, Yao e Metz (The secret language of destiny: stress imprinting and transgenerational origins of disease. Front Genet 2012 Jun 4;3:96).  Esses autores propõem que memórias epigenéticas, formadas por condições ambientais adversas e por estresse representem um determinante critico de doença e saúde até a terceira geração e além e concluem que a investigação do papel de fatores ambientais, como o estresse, na provocação de variações de perfis epigenéticos pode levar a novos rumos da medicina preventiva, personalizada, baseada em assinaturas epigenéticas e intervenções adequadas.

Em vista dessas pesquisas e inúmeras outras, é tempo de as emoções serem  incorporadas ao campo do estudo da doença e da saúde e fazer parte das considerações da origem e do comportamento das enfermidades. “Muitos médicos se sentem inquietos com as emoções por vezes associadas à doença. O formato de interrogatório (do médico) diz ao paciente que o que se espera dele são apenas os fatos.   Mas a doença costuma ser muito mais do que uma série de sintomas .A experiência de estar doente em grande medida se mistura a sentimentos e significados, que moldam a experiência do paciente e sua percepção da doença em formas que o médico não pode prever” (Lisa Sanders. Todo Paciente Tem Uma História Para Contar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edit., 2010).       

O atual estado dos conhecimentos científicos indica que é necessário incorporar à prática médica o trabalho de busca  das emoções desprazerosas por trás dos quadros clínicos e sua transformação em emoções prazerosas, porque isso beneficia os pacientes, potencializa os tratamentos e favorece a cura e a promoção da saúde.

 

Roberto Azambuja

Hospital Universitário de Brasília

 

 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Um certo olhar e escutar da psicodermatologia

                                
Hipócrates, pai da medicina, teve uma visão integrativa. Introduziu a ideia de que o corpo humano  é um todo cujas partes se interpenetram e a alma,elemento interno dessa coesão,teria uma função reguladora . Ele se preocupou com as doenças fisicas e os problemas mentais de seus pacientes e considerava o cérebro o órgão do pensamento.Tinha ao mesmo tempo uma visão humanista e cientifica da medicina.
 
De acordo com o texto “A cura” de D. W. Winnicott, a palavra “cura’’ foi perdendo através dos séculos o seu significado original que era “cuidar” e passou a ter o significado de um tratamento médico  com  um “desfecho bem sucedido”, isto é, um tratamento médico que traria como resultado a destruição ou erradicação da doença e suas causas.Neste texto,  o autor  mostra que na doença há uma relação de confiabilidade entre as partes, entre médico e paciente, e essa relação leva ao processo de se deixar cuidar.
 
Os pacientes, há algum tempo, percebem os médicos um tanto distanciados, demonstram uma insatisfação da falta de vinculo com esses  profissionais. As consultas são rápidas e muitas vezes os pacientes apresentam a queixa recorrente que o médico, no caso o dermatologista, prescreveu o medicamento mas não examinou a pele.
 
Hoje a medicina  já admite com mais facilidade a visão hipocrática da relação integrada corpo e mente.
 
Observamos que apenas a abordagem dermatológica não é suficiente para tratar muitos pacientes.Alguns sofrem tanto com as  suas patologias de pele,que um apoio psicológico se faz necessário. A consulta com enfoque psicodermatológico deve ser mais longa e a questão psicológica e dermatógica devem caminhar juntas.
 
O dermatologista pode se aprofundar nessa questão , estudando e aprimorando a sua formação na área psicológica,psiquiátrica ou psicossomática,ou adicionando na consulta técnicas e instrumentos que podem levar a uma melhora da eficácia do atendimento, podendo ou não encaminhar o paciente para outro profissional.
 
Muitos pacientes não estão cientes de seus problemas psicológicos e cabe ao dermatologista investigar muitas questões e observar se o paciente está deprimido, ansioso, se existe algum risco de violência,psicoses,dependêcias em geral, se ele está num período de tristeza , luto, stress.
 
De acordo com a Dra Françoise Poot podemos utilizar as seguintes ferramentas durante a consulta:
1 - Observação clínica: como o paciente se comporta, sua fala, sua comunicação não verbal,sua postura na cadeira, se ele estiver acompanhado pela familia, quem fala primeiro.
2 - Percepção e sentimentos do dermatologista: a atmosfera da consulta, se o paciente se mostra aberto, fechado, se apresenta uma pseudo-harmonia, tensões ocultas.Alguns pacientes psicóticos podem ter uma conversa aparentemente normal, mas com senso de irrealidade.
3 - Investigação: sobre a sua qualidade de vida, atividade física, alterações de humor, sono, apetite, ganho ou perda de peso.
4 - Uso de questionarios: são especificos para identificação e estudos de casos. São muito usados em estudos científicos, mas devem ser validados na lingua do país.
5 - Uso do Genograma:  realizado juntamente com o paciente, desenhando e escrevendo sua arvore genealógica com as patologias e eventos na família, como mortes repentinas, histórias de vícios, alcoolismo, eventos difíceis (separações,mudanças,perdas).
Todo esse processo de investigação na consulta auxilia o médico a acessar as emoções do paciente e juntos podem reconhecer, trabalhar e resolver muitas vezes o sintoma. É uma forma do paciente compreender a sua patologia.
Se o dermatologista não se sentir confortável com algumas questões ou perguntas mais íntimas, ele não deve julgar o paciente e nem entrar em confronto. O simples fato de  fazer algumas perguntas casuais ao paciente, por exemplo, como está sendo o seu dia e como o sintoma ou a patologia o está afetando emocionalmente, já é um passo para esse olhar e escutar da psicodermatologia.
 
Noemi  E. de Weber Wahrhaftig
 
Dermatologista em especialização em psicossomática
 
Psicanalítica no Instituto Sedes Sapientiae

quarta-feira, 19 de junho de 2013

O Médico Estressado


Roberto Azambuja
Hospital Universitário de Brasília
 
O organismo humano, em condições ótimas, é dotado de equilíbrio interno, que o fisiologista americano Walter Cannon denominou homeostasia. Fatores externos e internos podem romper esse equilíbrio, levando-o a um gasto energético para se adaptar à nova situação, estado que o pesquisador vienense Hans Selye chamou estresse.
   O estresse é um mecanismo natural de sobrevivência do organismo e ocorre em situações que são interpretadas pelo cérebro como ameaçadoras à vida. Se a situação for superada, o organismo se recupera do esforço e volta ao normal sem alterações. Isso é causado por condições ambientais inóspitas ou desagradáveis ou por interpretação mental das condições externas de curta duração.
   As condições agressivas ao organismo podem, no entanto, prolongar-se por longo tempo e exigir um esforço permanente. Esse estado faz surgir o estresse crônico, que, diferentemente do agudo, não é natural, é altamente lesivo ao organismo, desequilibra os sistemas imunológico, nervoso e endócrino e facilita a instalação de doenças. No mais das vezes, o estresse crônico é produto de percepção equivocada ou distorcida de fatos externos, outras vezes é consequência de acontecimentos geradores de tensão pela sua própria natureza.
   Pelo tipo de vida atual, as pessoas todas estão sujeitas aos efeitos do estresse crônico, que são as mais prejudiciais para a saúde humana. Na verdade, segundo inúmeros estudos, o estresse crônico está na origem de setenta por cento das doenças mais comuns, aquelas que enchem os ambulatórios e os consultórios médicos.
   O profissional médico, desde sua entrada na faculdade, é submetido a alta carga de estresse; por isso, deveria ter conhecimento amplo sobre essa situação e sobre os efeitos extremamente graves  que ela traz sobre sua saúde física e mental. O físico Fritjof Capra (O Ponto de Mutação. Ed. Cultrix, 1986) afirma:
“A expectativa de vida entre os médicos é de dez a quinze anos menos que a media da população e eles apresentam elevadas taxas de doenças físicas além de altos índices de alcoolismo, abuso de drogas, suicídio e outras doenças sociais. A maioria dos médicos adota essas atitudes não saudáveis logo no início do curso de medicina no qual seu treinamento foi planejado para ser uma experiência extremamente estressante.
Embora provoquem estresse, as escolas de medicina não se preocupam em ensinar a seus estudantes como enfrentá-lo. Essa carga de estresse é agravada pelo fato de que os médicos têm que lidar continuamente com pessoas em estado de grande ansiedade ou profunda depressão, o que aumenta a intensidade do seu trabalho cotidiano. Como eles são treinados dentro de um modelo de saúde e de doença em que as forças emocionais não desempenham papel algum são propensos a ignorá-las em sua própria vida”.
   Brian W. Mc Laughlin e colaboradores (Stress biomarkers in medical students participating in a mind body medicine skills program . Acessado em http://ecam.oxfordjournals.org em 8/1/2011) informam:
Um estudo na Nova Zelândia, encontrou que 28% de estudantes relatou altos níveis de exaustão emocional e despersonalização ou baixa realização pessoal, que são componentes da síndrome do burnout. Está bem documentado que o estresse em médicos começa antes do início de suas carreiras profissionais; altos níveis de estresse são relatados entre estudantes de graduação e doutorandos. Uma revisão por Dyrbe et al. salientou os muitos estressores únicos da escola de medicina, que vão do grande volume de trabalho a conflitos éticos e exposição ao sofrimento humano e à morte. Esses estressores podem conduzir ao prejuízo no desempenho acadêmico, cinismo, desonestidade acadêmica, abuso de drogas e mesmo ao suicídio.
O bem-estar do profissional poderia ser favorecido pela promoção da autoconsciência e do autocuidado, que seriam conseguidos pela prática da medicina mente-corpo. A medicina mente-corpo leva em consideração a conexão entre mente e corpo e seu efeito na saúde geral”.
   Merry N. Miller e K. Ramsey Mcgowen (The painful truth: physicians are not invincible. South Med J  2000;93(10):966-72) afirmam:
Autocuidado entre médicos não é uma questão  geralmente incluída como parte do treinamento profissional nem é um assunto que prontamente receba consideração na prática médica. Os estresses da prática profissional podem cobrar grande tributo, contudo, e a autonegligência pode levar a consequências trágicas. Em algumas áreas, particularmente a da taxa de suicídios, os médicos têm vulnerabilidade aumentada e, em outras áreas, problemas podem passar não reconhecidos (depressão, abuso de substâncias, problemas conjugais e outros eventos relacionados ao estresse”.
   No organismo afetado pelo estresse crônico, passam-se inúmeros fenômenos lesivos ao seu equilíbrio e à saúde: aumento da produção de cortisol pelas supra-renais e conseqüente diminuição da função imunógica e facilitação de doenças infecciosas, alérgicas, autoimunes e degenerativas; aumento da produção de hormônios da tireóide  e instalação de hipo ou hipertireoidismo; aumento da produção de endorfinas e falta de seu efeito analgésico por esgotamento; diminuição dos hormônios sexuais com o efeito de redução da libido, impotência e frigidez; espasmo e paralisação dos órgãos digestivos, ressecamento da boca e sintomas de náuseas, má digestão, inchação do estômago; liberação de glicose no sangue e aumento da insulina; aumento do nível de colesterol com possibilidade de incremento na formação de trombos nas artérias; aceleração da frequência cardíaca, cansaço fácil, sensação de respiração curta, aumento dos efeitos da adrenalina e da coagulação sanguínea, constrição das coronárias; aumento rápido da tensão arterial e tendência a hipertensão; respiração rápida e superficial com deficiência na oxigenação dos tecidos; aumento dos glóbulos vermelhos no sangue e de fatores de coagulação, levando a aumento da coagulabilidade e isquemias; aumento da sudorese na pele e diminuição do suprimento de sangue com consequente diminuição da resistência da pele; vasoconstrição por aumento de adrenalina e noradrenalina com elevação da tensão arterial.
   Esses fatos, mantidos por longo tempo ou renovados em tempos curtos, abre caminho para inúmeras doenças: hipertensão arterial, arritmia, infarto do miocárdio, diminuição da memória, aterosclerose dos vasos cerebrais, acidente vascular encefálico, cefaléias por tensão, crises de enxaqueca, gastrite, úlcera péptica, doenças inflamatórias dos intestinos, colites, diarréias crônicas, constipação intestinal, disfagia, envelhecimento precoce da pele, eritemas, queda de cabelos, vitiligo, psoríase, neurodermite, escoriações psicogênicas, distúrbios sexuais, crises de asma e bronquite, sobrepeso, obesidade, deficiência da função de células NK, doenças tireoideanas, insônia, sono entrecortado, sono excessivo, astenia, dores musculares, fadiga crônica, dores lombares e outras, conforme a pessoa.
   Tudo isso se acompanha de  alterações comportamentais: esquecimentos, que levam a erros e acidentes; descontrole emocional, responsável por atos e palavras desproporcionais aos estímulos externos das quais decorrem conflitos no trabalho e na família; cansaço, sono perturbado, dificuldades sexuais; para compensar, o médico estressado aumenta a carga de trabalho, de onde vem esgotamento, ou deriva para “relaxantes” mais prejudiciais, como álcool, tabaco e drogas; termina com depressão e, em casos extremos, suicídio.
   Pela magnitude comprovada de seus efeitos seria de esperar-se que as escolas médicas dessem grande atenção ao estresse e lhe reservassem um espaço na grade curricular, de modo que os profissionais fossem capacitados para cuidar de si mesmos  e secundariamente  dos pacientes. Afinal,  eles se defrontam com relatos de eventos estressantes em cada atendimento, os quais estão ligados às queixas físicas dos pacientes. De modo geral, essa atenção não é dada e os médicos vivem com estresse sem se dar conta disso, achando que é assim mesmo, ou sem saber o que fazer para sair dele. Quanto aos pacientes, os médicos ou ignoram suas queixas sobre estresse ou se limitam a dar conselhos inexequíveis, como: não esquente a cabeça.
   Algumas escolas médicas, entretanto, estão atentas para a situação vivida pelos alunos e residentes e procuram conscientizá-los e dar-lhes recursos para manter a própria saúde diante das situações estressantes, que fazem parte da atividade médica. Em editorial no Canadian Medical Association Journal, Bruce P. Squires (CMAJ 1989;140:18-19) propõe que educadores médicos e diretores de programas de pós-graduação implementem e avaliem programas para ajudar estudantes e residentes a aprender a lidar com o estresse. E diz que não é mais aceitável supor que o estresse contínuo vai ensinar a maioria dos estudantes a se adaptar.
   A Faculdade de Medicina de Harvard, pelo seu departamento de educação continuada, e o Mind/Body Medical Institute, do Beth Israel Deaconess Medical Center ministram, desde 1989, sob orientação do cardiologista Dr. Herbert Benson um curso sobre estresse cujo currículo inclui instrução em técnicas  geradoras  da resposta de relaxamento, nutrição, exercícios antiestresse, recursos para lidar com o estresse, identificação de estressores pessoais, comunicação eficiente, clarificação de valores e estabelecimento de metas. Estudos controlados mostraram que os estudantes que seguem esse programa aumentam sua autoestima, são menos influenciáveis por seus colegas e têm mais autoconsciência e ainda desenvolvem habilidades que os auxiliam nas sua vida pessoal e acadêmica.
   No Georgetown University Medical Center é dado um programa eletivo para autocuidados e autoconsciência. O programa de habilidades em medicina mente-corpo consiste de sessões em grupo durante onze semanas, que são baseadas em técnicas e vivências, acompanhadas de discussões. As sessões incluem treinamento autógeno, biofeedback, técnica de visualização, registro de diário para conscientização e meditação. Os condutores do programa colhem saliva dos estudantes para dosagem de cortisol e sangue para dosagem de testosterona e S-DHEA para comparação com grupo controle (Brian W. Mclauglin, artigo citado).
   Pela enorme influência do estresse na geração de doenças, todos os médicos deveriam estar inteirados do seu papel e conhecer maneiras de proteger a si mesmo das suas consequências  e de orientar os pacientes no mesmo sentido. Técnicas simples e naturais, como respiração consciente, relaxamento muscular, automassagem e meditação, são capazes de exercer um efeito preventivo de grande alcance, se praticadas regularmente.