Vitiligo é dermatose largamente
desconhecida. É muito pouco o que se
pode dizer ao paciente com certeza absoluta. De modo geral, tudo depende do
organismo em que se desenrola a agressão aos melanócitos. Na prática, cada
paciente tem um vitiligo próprio, com início próprio, evolução própria
e possibilidade própria de cura ou não cura.
Consideramos que todos os casos
de vitiligo têm origem genética. Essa seria a causa primeira da dermatose. Os
casos de vitiligo se dividem em três grupos: os de incidência familiar, os que
surgem por algum motivo impossível de ser esclarecido com os recursos atuais e os
desencadeados por algum fator evidente. Essa conclusão é baseada na
epigenética, a ciência que mostra que poucos genes atuam por si sós e que a
grande maioria necessita de um fator ativador para causar doenças.
Os casos de vitiligo familiares
se caracterizam por incidência em várias
gerações e, não raro, em várias pessoas
na mesma família atingidas. Há mesmo casos de irmãos em que o mais velho
desenvolveu manchas em determinada idade
e outro, quando atingiu a mesma idade.
Os casos cujos fatores desencadeantes
permanecem desconhecidos são a maioria das pessoas com vitiligo. As manchas
aparecem sem que se identifique nenhum evento que possa ter tido relação com
seu início.
Os casos em que se consegue
encontrar um fator provavelmente desencadeante perfazem cerca de 40% do total
de pacientes. Traumatismos da pele,
queimaduras térmicas, descamação da pele por bronzeamento ao se expor à
luz solar, dermatoses inflamatórias e traumas emocionais são os agentes que
precedem o aparecimento do quadro clínico.
Entre esses fatores o trauma
emocional é o menos pesquisado e o menos
valorizado pelos médicos. A grande ocorrência de citações de pacientes a um
evento traumático que tenha antecedido o início do vitiligo chama a atenção
de médicos interessados em buscar a origem da doença em
cada pessoa que a apresente. Não há como comprovar que o evento precipita a despigmentação da pele,
mas as referências são muito frequentes para serem somente um dado fortuito. A
repetição é altamente sugestiva, por isso pode-se considerar que haja relação
de causa e efeito entre o trauma e a mancha.
Esse grupo é formado por aquelas pessoas em quem um evento traumático causou impressão tão profunda que continua a
exercer sua influência, de modo inconsciente, até o momento. Isso se evidencia pelas reações do paciente ao
relatar o fato. Uma observação atenta da sua expressão corporal e da exteriorização de suas emoções, como
tristeza, medo ou raiva ao contar o que ocorreu indica que o fato do passado
continua com energia e atuante dentro do paciente, como se fosse presente. É o
que se chama estresse pós-traumático, caracterizado por recordações vivas
intrusivas, pesadelos, medo de que aconteça de novo, evitação de conversas,
pessoas, objetos, lugares relacionados com o evento traumático, afastamento do
convívio social, sensação física de desconforto e ansiedade.
Uma anamnese que inclua a busca
por agente desencadeante fora da matéria vai encontrar, com frequência surpreendente, referência a eventos traumáticos que antecederam o início
do vitiligo em meses, semanas ou dias. Espantosamente, há citação de aparecimento da dermatose no dia seguinte
ao do fato.
Eventos traumáticos relatados por
pacientes são muito variados. Mesmo fatos comuns podem, para certas pessoas e
em certas circunstâncias, funcionar como altamente traumáticos e deixar um
estresse permanente. Os eventos mais citados são separações, perdas de pessoas
significativas, frustrações, problemas financeiros, acidentes, assaltos. Em
crianças, nascimento de irmão, violência doméstica produzida por pai
alcoólatra, separação dos pais, abuso sexual.
É de salientar-se que, enquanto
persiste a energia do trauma, a possibilidade de êxito no tratamento se reduz
acentuadamente. A ressignificação do evento traumático, por tratamento
psicológico adequado, elimina a carga
emocional negativa e libera a resposta favorável do organismo e deve sempre
fazer parte do esquema terapêutico proposto.
Roberto Azambuja
Hospital Universitário de Brasília