quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Traumas emocionais no vitiligo


Vitiligo é dermatose largamente desconhecida.  É muito pouco o que se pode dizer ao paciente com certeza absoluta. De modo geral, tudo depende do organismo em que se desenrola a agressão aos melanócitos. Na prática, cada paciente tem um  vitiligo  próprio, com início próprio, evolução própria e possibilidade própria de cura ou não cura.

Consideramos que todos os casos de vitiligo têm origem genética. Essa seria a causa primeira da dermatose. Os casos de vitiligo se dividem em três grupos: os de incidência familiar, os que surgem por algum motivo impossível de ser esclarecido com os recursos atuais e os desencadeados por algum fator evidente. Essa conclusão é baseada na epigenética, a ciência que mostra que poucos genes atuam por si sós e que a grande maioria necessita de um fator ativador para causar doenças.

Os casos de vitiligo familiares se caracterizam por incidência em várias gerações e,  não raro, em várias pessoas na mesma família atingidas. Há mesmo casos de irmãos em que o mais velho desenvolveu manchas em determinada  idade e outro, quando atingiu a mesma idade.

Os casos cujos fatores desencadeantes permanecem desconhecidos são a maioria das pessoas com vitiligo. As manchas aparecem sem que se identifique nenhum evento que possa ter tido relação com seu início.

Os casos em que se consegue encontrar um fator provavelmente desencadeante perfazem cerca de 40% do total de pacientes. Traumatismos da pele,  queimaduras térmicas, descamação da pele por bronzeamento ao se expor à luz solar, dermatoses inflamatórias e traumas emocionais são os agentes que precedem o aparecimento do quadro clínico.

Entre esses fatores o trauma emocional é  o menos pesquisado e o menos valorizado pelos médicos. A grande ocorrência de citações de pacientes a um evento traumático que tenha antecedido o início do vitiligo chama a atenção de  médicos  interessados em buscar a origem da doença em cada pessoa que a apresente. Não há como comprovar que  o evento precipita a despigmentação da pele, mas as referências são muito frequentes para serem somente um dado fortuito. A repetição é altamente sugestiva, por isso pode-se considerar que haja relação de causa e efeito entre o trauma e a mancha.

Esse grupo é formado por  aquelas pessoas em quem um evento traumático  causou impressão tão profunda que continua a exercer sua influência, de modo inconsciente,  até o momento.  Isso se evidencia pelas reações do paciente ao relatar o fato. Uma observação atenta da sua expressão corporal e  da exteriorização de suas emoções, como tristeza, medo ou raiva ao contar o que ocorreu indica que o fato do passado continua com energia e atuante dentro do paciente, como se fosse presente. É o que se chama estresse pós-traumático, caracterizado por recordações vivas intrusivas, pesadelos, medo de que aconteça de novo, evitação de conversas, pessoas, objetos, lugares relacionados com o evento traumático, afastamento do convívio social,  sensação  física de desconforto e ansiedade.

Uma anamnese que inclua a busca por agente desencadeante fora da matéria vai encontrar, com  frequência surpreendente, referência a  eventos traumáticos que antecederam o início do vitiligo em meses, semanas ou dias. Espantosamente, há citação de aparecimento da dermatose no dia seguinte ao do fato.

Eventos traumáticos relatados por pacientes são muito variados. Mesmo fatos comuns podem, para certas pessoas e em certas circunstâncias, funcionar como altamente traumáticos e deixar um estresse permanente. Os eventos mais citados são separações, perdas de pessoas significativas, frustrações, problemas financeiros, acidentes, assaltos. Em crianças, nascimento de irmão, violência doméstica produzida por pai alcoólatra, separação dos pais, abuso sexual.

É de salientar-se que, enquanto persiste a energia do trauma, a possibilidade de êxito no tratamento se reduz acentuadamente. A ressignificação do evento traumático, por tratamento psicológico adequado,  elimina a carga emocional negativa e libera a resposta favorável do organismo e deve sempre fazer parte do esquema terapêutico proposto.








Roberto Azambuja
Hospital Universitário de Brasília