sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Impacto psicológico da doença dermatológica crônica


A hanseníase carrega um significado cultural por ser conhecida como “lepra” que em grego significa escamoso. Assim, o preconceito, a auto-estigmatização, os conflitos familiares, sociais e a incapacidade de autopercepção corporal podem se intensificar e dificultar o enfrentamento da doença. A terminologia hanseníase foi introduzida a partir da década de 1970, com a finalidade de diminuir o estigma da doença2. Em 29 de março de 1995, o uso da terminologia hanseníase tornou-se obrigatório no Brasil.
Desde os escritos bíblicos, a palavra “lepra” era utilizada para indicar uma variedade de dermatoses, entre elas a psoríase e o eczema. Isto porque, tanto a hanseníase quanto outras doenças dermatológicas podem provocar alteração funcional, estética, psicossocial, sendo responsáveis também pelo estigma sofrido pelo indivíduo.
A visibilidade da pele permite ao paciente dermatológico uma interação direta com suas lesões, exposição ao outro, seja por meio do toque, de novas complicações da doença ou pelo surgimento de novas lesões. Em grande número de dermatoses, há uma estreita relação entre a pele e o psiquismo. As doenças dermatológicas (psoríase, vitiligo, dermatite atópica, eczema, entre outras) podem apresentar o mesmo impacto psicológico comparado à hanseníase, manifestando sintomas depressivos, de ansiedade, transtornos obsessivos, etc. O indivíduo com doença dermatológica crônica enfrenta inúmeras dificuldades e insatisfações, tais como, a baixa perspectiva profissional, carência de apoio familiar, social e limitações da vida cotidiana, entre outras.
A atuação da equipe interdisciplinar é imprescindível quando se estabelece um vínculo de confiança, propiciando ao paciente facilidade na aquisição das informações sobre a doença e maior adesão ao tratamento.  É evidente a importância de se avaliar as questões psicológicas no surgimento das dermatoses, com o objetivo de não apenas prevenir as doenças, mas também intervir nos aspectos psicodermatológicos.

Antônio Carlos Ceribelli Martelli
Chefe da seção técnica - dermatologia e preceptor de residência médica do Instituto Lauro de Souza Lima, Bauru-SP.
 
Renata Bilion Ruiz Prado
Pesquisadora científica do Instituto Lauro de Souza Lima, Bauru-SP. Mestre em psicologia.

Mariane da Silva Fonseca
Psicóloga do Instituto Lauro de Souza Lima, Bauru-SP. Mestre em psicologia.


 

 














terça-feira, 29 de maio de 2012

Aspectos psicossociais no atendimento domiciliar


Gostaria de compartilhar a experiência com atendimento domiciliar que tenho feito há alguns anos Atendo idosos e pacientes com dificuldades de movimentação, pacientes oncológicos e portadores de necessidades especiais.

Este tipo de atendimento já se tornou uma opção importante do meu trabalho dermatológico. Durante a semana chego a ter até 5 pacientes com atendimento domiciliar, podendo cada paciente requerer mais de uma visita por semana.

Além de consultas faço também pequenos procedimentos que não levem a nenhum risco e em alguns casos mais graves chego a acompanhar o paciente em visita a colega médico de outra especialidade, facilitando a comunicação e a efetividade do tratamento.

O atendimento domiciliar tem benefícios sensíveis para o paciente, pois está no seu ambiente, sem o desconforto e riscos do deslocamento, principalmente numa cidade como São Paulo onde o deslocamento é mais difícil. Isto gera menos desconforto, menos medo de queda, menos stress físico e emocional para o paciente e cuidador e uma sensação de acolhimento.

Estando mais próxima do ambiente do paciente tenho também mais contato multidisciplinar com profissionais que tratam o paciente como geriatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, enfermeiros e cuidadores, podendo in-loco facilitar a comunicação bilateral.

Para mim como profissional médico, é um trabalho que traz satisfação pelos resultados positivos e pelo vínculo que estabeleço com pacientes e familiares.







Dra. Noemi E. de Weber Wahrhaftig 
DERMATOLOGISTA

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Vitiligo e emoções: o impacto não se restringe à superfície da pele


O vitiligo é uma das mais intrigantes doenças da pele. Ela não representa ameaças para a integridade física do paciente e a presença de sintomas físicos é escassa, mas alguns pacientes podem ter emoções vinculadas ao vitiligo A dermatologista da clínica Diversità Dermatologia, Dra. Tânia Nely Rocha, relata que é importante durante a consulta focar no paciente que está com vitiligo e não somente no vitiligo que está no paciente naquele momento da vida daquela pessoa.
A importância dada pelos pacientes à doença está diretamente relacionada com o fato de as manchas se localizarem, em sua maioria, em áreas visíveis. Esses indivíduos podem ser  estigmatizados por sua aparência, e isso pode interferir negativamente em sua vida social e relacionamentos interpessoais. A situação se pode ser tornar ainda mais delicada quando envolve crianças e adolescentes, tendo em vista que cerca de 50% dos casos se iniciam antes dos 20 anos de idade, e 25% antes dos 10. Esses pacientes requerem especial atenção, uma vez que crianças e adolescentes estão em fase de formação de sua identidade e levar em consideração os aspectos do bulling...
Pesquisa realizada com 100 pacientes de vitiligo no Hospital Universitário de Brasília (HUB) verificou que a doença provoca um sério impacto emocional. 80% dos pacientes que apresentavam manchas em áreas expostas do corpo queixaram-se de emoções desagradáveis. E 37% dos que tinham manchas em áreas não expostas afirmaram sentir emoções negativas em relação à doença. Prevaleceu, sendo citado por 71% dos pacientes, o sentimento de medo (principalmente, da doença se espalhar). A segunda emoção mais apontada foi vergonha (57%) e a terceira insegurança (55%). Em seguida, foram destacadas tristeza (55%) e inibição (53%). Nenhum paciente expressou emoção positiva em relação à doença.
O mesmo cenário foi apontado por um estudo realizado por pesquisadores do Curso de Medicina da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas (RS). De acordo com a pesquisa, cerca de 25% dos pacientes com doenças dermatológicas apresentam sofrimento psíquico. Além disso, a pesquisa também demonstrou que os pacientes com vitiligo estão propensos a ter sofrimento psíquico maior quando comparados aos pacientes com acne vulgar. O estudo ainda apontou que a doença pode provocar disfunção emocional que requer intervenção psicológica, uma vez que podendo interferir negativamente na autoestima dos pacientes. A depressão e a ansiedade são os distúrbios psíquicos mais comuns nos pacientes de vitiligo, que ainda podem apresentar fobia social, agorafobia e dificuldades de relação com o parceiro, entre outros distúrbios.
Diante desses dados, a Dra. Tânia Nely enfatiza que a busca pelo tratamento do vitiligo não se trata apenas de preocupação estética, mas sim, de busca pelo significado da doença no corpo da pessoa naquele momento da vida. “É papel do dermatologista oferecer uma abordagem mais humanizada para o problema”, ressalta. Em dos artigos publicados por ela na revista da sociedade brasileira de dermatologia ela aponta um dos caminhos que podem ser seguidos pelos colegas dermatologistas no atendimento dermatológico colocando na avaliação médico a pesquisa dos aspectos fisiológicos, comportamentais, cognitivos, afetivos, sistêmicos e ecológicos em relação ao paciente, visando alcançar a excelência no relacionamento entre médico e paciente e entre o paciente e o médico. “Por meio da sintonia com o paciente, do questionamento cuidadoso e do envolvimento e interesse do dermatologista em estar sensível a ele, é possível ter um atendimento respeitoso e eficaz”. É importante que o paciente tenha um elo de afeto, respeito e confiança em seu dermatologista para que ambos possam na busca pela cura buscarem e encontrarem orientações para os caminhos, atalhos e saberes a serem percorridos e que façam sentido e sejam adaptados na vida daquele paciente em especial.

Dra. Tânia Nely Rocha
(Belo Horizonte - BH)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pele e Felicidade


Como diria o poeta Paul Valéry, o que existe de mais profundo no homem é a pele!

A pele, o maior órgão do corpo humano, igualmente maior para a subjetividade e, por que não, para a comunicação, é nossa interface com o mundo. Basta uma pequena alteração na pele e lá se foi nossa autoestima. Das preocupações históricas do contágio, quando sempre se “pegava” a doença de pele, à saúde da beleza, encontramos milhares de manifestações e sinais cutâneos. Do evolucionismo ao próprio envelhecimento, destacamos a cor da pele, que já mudou o mundo, com terríveis considerações sociais. Tudo passa pela pele! E hoje, mais do que sempre, a nossa felicidade. Uma interessante expressão francesa, bien dans sa peau, ilustra essa situação, principalmente quando utilizada no negativo da primeira pessoa, je ne suis pas bien dans ma peau. Essa sensação de não estar bem, dentro da sua pele, significa, simplesmente, não estar nada bem. Traduz um estado de infelicidade. Conseguiríamos a felicidade pele-independente? Por outro lado, feliz, a sabedoria popular produz pérolas, que cientificamente ficam, não entre conchas, mas sim entre aspas, repletas de valor. O amor, uma “questão” de pele. A aceitação, outra “questão de pele”. A “química” do tato. O “beijo” do toque. Enfim, sensações e percepções de bem-estar “à flor da pele”.

Em 1964, Lyndon Johnson, então presidente dos Estados Unidos, empregou pela primeira vez o termo qualidade de vida. Desde então, o termo se tornou obrigatório em diversas áreas do conhecimento. Na Medicina, consideramos não somente a eficácia e a segurança de um tratamento, mas também a terceira dimensão, seu funcionamento social. Assim, a Organização Mundial de Saúde definiu e mediu a qualidade de vida no impacto do nosso estado de saúde, do nosso viver. Em seguida, Andrew Finlay, professor de dermatologia na Inglaterra, elaborou o primeiro questionário a avaliar a qualidade de vida em pacientes com problemas de pele. Trata-se do DLQI (índice de qualidade de vida em dermatologia). Quando empregamos esse questionário nos pacientes, estamos avaliando, através da pele, o grau de impacto negativo daquela desordem cutânea na qualidade de vida desses pacientes. Estudos mostraram que alterações na pele são comparáveis a graves doenças sistêmicas quando falamos na falta de felicidade. E não estamos sequer falando em beleza!

Proteção física, defesa imunológica, controle da temperatura, reação metabólica, expressão sensorial, são conhecidas e importantes funções biológicas da pele. Arriscaríamos incluir felicidade. Fica a sugestão. E com você, “tudo skin”?

 AUTOR: DR. LINCOLN FABRÍCIO