quinta-feira, 5 de abril de 2012

Vitiligo e emoções: o impacto não se restringe à superfície da pele


O vitiligo é uma das mais intrigantes doenças da pele. Ela não representa ameaças para a integridade física do paciente e a presença de sintomas físicos é escassa, mas alguns pacientes podem ter emoções vinculadas ao vitiligo A dermatologista da clínica Diversità Dermatologia, Dra. Tânia Nely Rocha, relata que é importante durante a consulta focar no paciente que está com vitiligo e não somente no vitiligo que está no paciente naquele momento da vida daquela pessoa.
A importância dada pelos pacientes à doença está diretamente relacionada com o fato de as manchas se localizarem, em sua maioria, em áreas visíveis. Esses indivíduos podem ser  estigmatizados por sua aparência, e isso pode interferir negativamente em sua vida social e relacionamentos interpessoais. A situação se pode ser tornar ainda mais delicada quando envolve crianças e adolescentes, tendo em vista que cerca de 50% dos casos se iniciam antes dos 20 anos de idade, e 25% antes dos 10. Esses pacientes requerem especial atenção, uma vez que crianças e adolescentes estão em fase de formação de sua identidade e levar em consideração os aspectos do bulling...
Pesquisa realizada com 100 pacientes de vitiligo no Hospital Universitário de Brasília (HUB) verificou que a doença provoca um sério impacto emocional. 80% dos pacientes que apresentavam manchas em áreas expostas do corpo queixaram-se de emoções desagradáveis. E 37% dos que tinham manchas em áreas não expostas afirmaram sentir emoções negativas em relação à doença. Prevaleceu, sendo citado por 71% dos pacientes, o sentimento de medo (principalmente, da doença se espalhar). A segunda emoção mais apontada foi vergonha (57%) e a terceira insegurança (55%). Em seguida, foram destacadas tristeza (55%) e inibição (53%). Nenhum paciente expressou emoção positiva em relação à doença.
O mesmo cenário foi apontado por um estudo realizado por pesquisadores do Curso de Medicina da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas (RS). De acordo com a pesquisa, cerca de 25% dos pacientes com doenças dermatológicas apresentam sofrimento psíquico. Além disso, a pesquisa também demonstrou que os pacientes com vitiligo estão propensos a ter sofrimento psíquico maior quando comparados aos pacientes com acne vulgar. O estudo ainda apontou que a doença pode provocar disfunção emocional que requer intervenção psicológica, uma vez que podendo interferir negativamente na autoestima dos pacientes. A depressão e a ansiedade são os distúrbios psíquicos mais comuns nos pacientes de vitiligo, que ainda podem apresentar fobia social, agorafobia e dificuldades de relação com o parceiro, entre outros distúrbios.
Diante desses dados, a Dra. Tânia Nely enfatiza que a busca pelo tratamento do vitiligo não se trata apenas de preocupação estética, mas sim, de busca pelo significado da doença no corpo da pessoa naquele momento da vida. “É papel do dermatologista oferecer uma abordagem mais humanizada para o problema”, ressalta. Em dos artigos publicados por ela na revista da sociedade brasileira de dermatologia ela aponta um dos caminhos que podem ser seguidos pelos colegas dermatologistas no atendimento dermatológico colocando na avaliação médico a pesquisa dos aspectos fisiológicos, comportamentais, cognitivos, afetivos, sistêmicos e ecológicos em relação ao paciente, visando alcançar a excelência no relacionamento entre médico e paciente e entre o paciente e o médico. “Por meio da sintonia com o paciente, do questionamento cuidadoso e do envolvimento e interesse do dermatologista em estar sensível a ele, é possível ter um atendimento respeitoso e eficaz”. É importante que o paciente tenha um elo de afeto, respeito e confiança em seu dermatologista para que ambos possam na busca pela cura buscarem e encontrarem orientações para os caminhos, atalhos e saberes a serem percorridos e que façam sentido e sejam adaptados na vida daquele paciente em especial.

Dra. Tânia Nely Rocha
(Belo Horizonte - BH)